11/05/2005 - 10:00
Ruim com ele, pior sem ele. Foi essa a conclusão dos britânicos ao reelegerem na quinta-feira 5 o primeiro-ministro do Reino Unido, o escocês Anthony (Tony) Charles Lynton Blair, 52 anos, para seu terceiro mandato (o primeiro em 1997 e o segundo em 2001) – um fato histórico nos quase 100 anos de Partido Trabalhista. Os trabalhistas conquistaram 354 cadeiras – mais do que as 324 necessárias para assegurar a maioria na Câmara dos Comuns (Parlamento), mas perderam espaço para os conservadores, que obtiveram 197 cadeiras (33 assentos a mais que em 2001), e para os liberais democratas, que levaram 62 (11 a mais). O partido vencedor tem seu líder, no caso Tony Blair, apontado como primeiro-ministro pela rainha Elizabeth II. A perda de assentos no Parlamento fez com que o carismático Tony Blair empalidecesse ao retornar para o número 10 da Downing Street (sede do governo). “Entendi a mensagem”, disse ele sobre a desaprovação dos eleitores com seu incondicional alinhamento com o presidente americano, George W. Bush, na guerra do Iraque.
Repetidas vezes Blair foi chamado de mentiroso pelo oposicionista Michael Howard, chefe do Partido Conservador (cargo que abandona depois da derrota). O premiê sobreviveu ao tiroteio, mas saiu com a imagem baleada. Os votos dos descontentes migraram para o candidato Charles Kennedy, do Partido Liberal Democrata, o único opositor à invasão do Iraque. Vencidas as tormentas no campo internacional, a sobrevivência de Blair deve-se ao fato de ele ser considerado um bom administrador. Uma pesquisa da Time/CNN afirma que 57% dos britânicos o consideram desonesto, mas 60% acham que ele é um líder forte. Ou seja, ele mente, mas faz. A estável economia com crescimento de 3,1% em 2004 (nível acima das estagnadas França e Alemanha), o rigoroso controle fiscal e a inflação nos 2% foram diretamente responsáveis pela continuidade de sua administração. Talvez ainda mais importante tenham sido os pesados investimentos na Educação e na Saúde, terreno em que os conservadores só amargaram derrotas na rígida era de Margareth Thatcher. “Os eleitores votam nos que realizam os melhores serviços públicos”, disse a ISTOÉ o diretor do Royal Institute of International Affairs, Victor Blumer-Thomas.
Brown não é Lula – Mas esse crescente aumento nos gastos públicos poderá desequilibrar a economia nesse terceiro mandato. E se Blair fracassar, já existe um substituto pronto a assumir: Gordon Brown. O ministro das Finanças – seu maior inimigo dentro do Partido Trabalhista – tornou-se o queridinho dos empresários e economistas por, além de obter sucesso econômico, tornar o Banco da Inglaterra (Banco Central) independente ainda em 1997, quando os trabalhistas chegaram ao poder. Especula-se que Brown assuma antes do final do mandato de Blair. Mas para os que pensam que ele esteja à esquerda do premiê, o analista Blumer-Thomas alerta: “Enganam-se os que acham que Brown é um Lula britânico. Ele é um conservador e franco admirador do modelo econômico dos Estados Unidos. E não pensem os brasileiros que ele irá fazer uma aproximação com Lula por conta de ser um líder de esquerda. Essa imagem progressista é para a mídia.” Outro desafio para Tony Blair será a votação da Constituição Européia, adiada para 2006. “Ele deixou que toda a Europa votasse para que depois os britânicos assim fizessem. A França, por exemplo, prestes à ir às urnas, será responsável por impulsionar ou frear de vez os britânicos”, disse o analista Blumer-Thomas. A perda da bandeira da integração européia – levantada tantas vezes pelo premiê – poderá ser mais um motivo para que ele antecipe sua saída.