Há uma nova diretriz para enfrentar a epidemia de Aids. Preocupados com a expansão da doença, que já atinge 39 milhões de pessoas no mundo, cientistas e outros profissionais empenhados em enfrentar a síndrome estão investindo na criação de microbicidas, produtos capazes de matar germes. Formulados como gel, creme ou droga oral, devem ser usados antes da exposição ao vírus. A idéia é criá-los para que a população feminina se proteja da infecção pelo HIV, o causador da enfermidade, pela via sexual. Hoje as mulheres são, de fato, um dos principais alvos do vírus. Na África, correspondem a 60% dos adultos infectados. O apoio ao desenvolvimento desses produtos ganhou um reforço milionário na última semana. Durante encontro de especialistas no Canadá, o americano Bill Gates, dono da Microsoft, e sua esposa, Melinda, doaram US$ 60 milhões para a International Partnership of Microbicides, uma organização criada para acelerar os estudos sobre esses métodos de prevenção. ?Precisamos colocar o poder de prevenir o HIV nas mãos das mulheres?, disse Melinda. Hoje, existem 16 microbicidas sendo testados em humanos. O que se estuda são substâncias com ação de barreira física contra o HIV, para impedi-lo de entrar nas células da mucosa vaginal. Também se investiga a ação combinada com as drogas usadas no combate ao vírus. Um dos trabalhos analisa, nos EUA e na Tailândia, o poder de um gel contendo o antiviral tenofovir. Para os médicos, o uso de microbicidas é uma perspectiva animadora. ?Mas acredito que levaremos cinco anos para chegar a algo definitivo?, disse a IstoÉ John Moore, da Universidade de Cornell (EUA). O infectologista Adauto Castelo, da Universidade de São Paulo, destaca outra vantagem do produto. ?Muitas mulheres não negociam com o parceiro o uso da camisinha e são infectadas. Se tiverem um microbicida, poderão controlar melhor a própria proteção?, explica. A pílula do dia anterior é outra estratégia de prevenção em estudo. Ela se baseia no uso dos próprios remédios contra a Aids antes de uma possível exposição ao vírus para verificar a proteção que isso pode dar aos indivíduos mais vulneráveis. Há grupos estudados nos EUA e na África, com investimento do governo americano e da Fundação Gates. Os participantes receberam o remédio tenofovir, depois substituído por 28 dias pela combinação tenofovir-emtricitabina. Resultados preliminares obtidos na África foram considerados animadores pelos cientistas, num artigo publicado na última semana no jornal da Academia Americana de Medicina. Porém, é uma saída polêmica. ?É possível que as pessoas tenham uma falsa sensação de segurança?, comenta o infectologista Juvencio Furtado, da Sociedade Brasileira de Infectologia. A doença atinge 39 milhões de pessoas no mundo