23/08/2006 - 10:00
Antigamente, não existia eletrodoméstico e as mulheres trabalhavam muito em casa. De 70 anos para cá, começaram a aparecer máquinas maravilhosas como liquidificador, ferro elétrico, fogão a gás, batedeira, torradeira e uma infinidade de outros aparelhos. Supõe-se que a mulher começou a ser poupada, já que os eletrodomésticos passaram a trabalhar por ela. Ledo engano: ?Há estudos que mostram que hoje a mulher gasta muito mais tempo na cozinha do que quando não tinha eletrodomésticos?, garante o carioca Eduardo Ayroza, professor da Fundação Getúlio Vargas. A justificativa é que a parafernália eletrônica mudou a maneira de viver. ?Se antes uma camisa era usada durante duas ou três semanas, hoje é trocada todo dia?, explica ele. Ayrosa é um dos pesquisadores da exposição Eletrodomésticos: origens, história e design no Brasil, inaugurada na quarta-feira 16, no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. O trabalho rendeu também um livro, com o mesmo nome. As mais de 200 peças expostas mostram a evolução ? e também a extinção ? de aparelhos enquanto flagram as alterações comportamentais da sociedade. A designer Silvia Fraiha, coordenadora do projeto, comenta curiosidades. ?Tudo mudou, exceto o liquidificador que continua praticamente o mesmo. Até esse nome meio engraçado é usado até hoje.? Outros aparelhos não tiveram a mesma sorte. O rádio, por exemplo, perdeu o posto de rei da casa para a televisão. Era o elemento aglutinador da casa. Hoje, esse papel é da tevê. As enceradeiras e máquinas de costura caíram em desuso. Apareceram novas necessidades, como o espremedor de frutas e a máquina de fazer café. Os ventiladores ficaram cada vez mais bonitos e leves. O aspirador ? ufa! ? deixou o sistema mecânico e agora é robotizado, totalmente sem fios e muito útil também para limpar carros. Triste sorte teve a eletrola, ou toca-discos, banida cruelmente do mercado em função dos CD players, i-Pods, etc. Outra parte curiosa da mostra inclui os precursores dos eletrodomésticos, umas geringonças que hoje são caras relíquias, como o aspirador com sistema de fole, ferro de passar a carvão, máquina de costura manual e gramofone. Tempos em que nenhuma dona-de-casa precisava pagar aulas em academias: os músculos eram adquiridos na rotina mesmo. Também têm lugar de destaque os incríveis anúncios dos eletrodomésticos. Quando foi lançado, no fim da década de 50, o aspirador de pó portátil foi apresentado numa propaganda em que uma feliz mulher usa a peça na sala da casa emoldurada pela frase: ?Leve como uma vassoura!? Noutra cena, a típica esposa manuseia uma batedeira de bolo enquanto o anúncio resume: ?É Natal… Não existe presente mais desejado.? Ainda bem que os tempos mudaram.