04/05/2005 - 10:00
Nenhuma mudança de endereço tem provocado tanta expectativa entre os endinheirados consumidores do País quanto a celebrada ida da loja Daslu da Vila Nova Conceição para um empreendimento de 17 mil metros quadrados na Vila Olímpia, em São Paulo. Tanto barulho se justifica. Além de o investimento estar estimado em R$ 200 milhões, a nova Daslu representa um lugar único e superlativo quando a idéia é gastar com o que há de melhor. De bonequinhas da Hello Kitty a carrões, de chaveirinhos da Prada a helicópteros. Absolutamente todas as grifes que reluzem no universo do luxo estarão em suas prateleiras: Chanel, Gucci, Prada, Dolce & Gabbana, Apple, Nike, Volvo, Jaguar.
A ansiosa espera termina na quarta-feira 25 de
maio, com o début. Eliana Tranchesi, 49 anos, a
dona do projeto, não emite sinais de nervosismo pela espera. Muito menos algum traço de arrogância que seria comum num mundo em que um vestido de alta-costura custa até R$ 30 mil. Em seu escritório ainda na antiga Daslu, Eliana conversou com ISTOÉ. E contou como transformou uma butique familiar na maior referência do luxo da América Latina.
Foi nesse espaço que minha mãe abriu a loja, há quase 50 anos, e eu não queria sair. Lutei bastante para ficar e achei que fosse ganhar essa batalha, pois estávamos aqui antes da lei de zoneamento. Foram várias ações na Justiça e sete anos de luta. Até que percebi que, de um jeito ou de outro, a gente tinha que crescer. Tinha que fazer a Chanel maior, a loja da Prada maior. Ou eu crescia dentro da Daslu ou teria que abrir lojas na rua. Mas perderia o espírito Daslu. Porque não é só ter a loja da Prada, é ter a Prada dentro do nosso conceito.
Quem compra aqui sabe. É uma loja familiar, onde as clientes e as vendedoras são muito próximas. Pertencem, em sua maioria, ao mesmo universo. Você entra aqui e se sente bem-cuidada. Não é mais uma, como em shoppings ou lojas de departamento. Tem seu momento de compras sagrado, sem pressa, e uma série de mimos que só a Daslu oferece.
Muitos. Pensar em tudo. Em como o cliente vai se sentir bem desde a hora em que pára o carro até quando vai embora. Ele terá uma vendedora acompanhando as compras pela loja. Depois poderá pagar tudo em um lugar só. E, para terminar, uma esteira rolante, tipo de aeroporto, levará as sacolas até o carro, ou seja, nem esse trabalho de carregar as compras ele terá. Enquanto compra, você também pode almoçar, ir ao cabeleireiro… que as suas sacolas já estarão guardadinhas no seu carro. Se você está fazendo compras de um lado da loja, não precisa caminhar até o outro, quatro carrinhos de golfe cuidarão disso.
O cheirinho da loja, a música, o heliponto, o restaurante que todo mundo pedia… um champanhe-bar, com projeto do David Collins, arquiteto da Madonna. O almoço e o jantar serão no Leopoldina. O japonês será o Kosushi, que é delicioso e terá uma mesa comunitária e um balcão. Depois tem a Pati Piva que fez uma coleção de delícias salgadas. Queríamos contemplar tudo o que faltava. Então o que faltava? Cabeleireiro, spa, coisinhas para casa, um antiquário, os restaurantes, uma papelaria de luxo e loja de esportes. Além disso, terá um espaço da Apple com computadores e acessórios para iPods, uma Bang & Olufsen e até aeromodelismo…
Muitos serviços são terceirizados. Eles alugam o nosso espaço e estão lá com a nossa devida aprovação. São ao todo 80 pequenos negócios. Desde charutaria, que é um espaço minúsculo, até a loja da Esther Giobbi, com coisas de decoração. Grifes como Gap e Banana Republic estarão pela primeira vez no Brasil e serão trazidas por Jonas Barcelos, que administra os freeshops dos aeroportos. Teremos lojas da Nike para homens, mulheres e crianças. Todas essas lojas terão uma edição especial para Daslu. E os negócios que eram nossos continuam sendo nossos: Chanel, Prada, Dolce & Gabbana, Gucci, Valentino, Tod’s, que terá a primeira butique no Brasil, assim como Dolce & Gabbana.
Sim, é uma Global Store. Terá todos os produtos da marca. A roupa desenhada pelo Marc Jacobs, as bolsas, os sapatos e as jóias. Um lu
Nossa (pausa)… É tão diferente. Luxo tem qualidade envolvida. Quando você fala de luxo, fala de vender qualidade. Ostentação não. Ostentação é exibicionismo. É querer mostrar para o outro uma coisa que você nem é. Acho que atender luxuosamente uma pessoa é você conseguir mexer com todos os sentidos dela.
Sempre trouxemos o que tínhamos vontade de usar. Não tem um
critério exato. Ouço as clientes, as minhas filhas; enfim, o que queremos
comprar e usar vendemos.
A Daslu chama Daslu porque eram duas Lus, a minha mãe, Lucia
(Piva de Albuquerque), e a Lourdes Aranha, uma amiga dela, de quem compramos
a outra parte do negócio, há cinco anos. A empresa, que hoje tem 48 anos, é minha
e dos meus três irmãos. É uma empresa familiar. Comecei a trabalhar na loja por acaso. Nem achava muita graça. Não era o que eu queria. Eu fazia artes plásticas, queria seguir carreira mesmo, abrir um ateliê de gravuras. Eu fazia litogravura, desenho. E acabei resolvendo trabalhar com a mamãe porque o Bernardino (Tranchesi Junior, cardiologista com quem Eliana foi casada e teve três filhos) ia fazer residência, mestrado, doutorado, livre-docência. Ele queria seguir carreira acadêmica. Tinha que ficar uns oito anos sem ter nenhuma preocupação de sustentar a casa. Então eu pensei: com as artes plásticas não ganharei dinheiro.
E comecei a pensar em trabalar na Daslu só por uma fase. Mas depois que comecei a vender, eu amei! Amo vender! (empolgada) O que foi uma força na carreira do Bernardino virou a minha carreira.
Era uma casinha mínima. Você entrava, tinha um terracinho, uma área como se fosse um gazebinho e uma sala em L. Tinha uns 70 metros quadrados.
Pois é. Foi um longo caminho. Me lembro quando fiz o primeiro desenho de uma camisa. Era uma camisa de seda que usávamos para ir jantar fora, no restaurante Rodeio, que era chiquérrimo. A moda era usar jeans, camisa de seda para dentro da calça e muitas correntes de ouro. Em seguida, comecei a desenhar uns cintos que a minha empregada fazia. Fui na 25 de Março (rua de comércio popular em São Paulo), comprei seda, linha, acessórios e dei para ela. Depois tive que conseguir outra arrumadeira para ficar no lugar dela porque ela passava o dia inteiro fazendo cinto em casa. A minha lavanderia virou uma oficina. Daí a gente começou a procurar fornecedores.
Em maio de 2003 eu fui para Berlim, na Alemanha, ver uma feira imobiliária. Visitei a embaixada italiana na cidade e achei bárbaro. Me inspirei nela para fazer o prédio. As idéias todas começaram ali. Em fevereiro de 2004 conheci o grupo Ergi, um grupo de investidores portugueses.
Não, eles não são meus sócios. Eles são proprietários do imóvel. Fizeram o prédio no sistema built to suit, ou seja, eles fazem exatamente tudo o que a gente quer, nos padrões da Daslu. A escolha do acabamento é toda feita pela Daslu e daí eles entregam o prédio pronto para a gente usar e pagar aluguel.
Não. Não confirmo porque não divulgo números. Aprendi isso com a Chanel. Eles também nunca divulgam suas cifras.
Completamente. O estrangeiro fica impressionado. Ele tem o modelo
das department stores (lojas de departamento) e das lojas de rua. De repente
ele vê a Daslu, que não é shopping nem department store… O conceito é
realmente único. Não dá para explicar por que a Daslu foi crescendo, crescendo e virou isso. É uma delícia. Eu acho muito legal ser um negócio brasileiro. A gente
não copiou de ninguém. Nem daqui do Brasil nem de fora. O mesmo vale para o modelo de atendimento. Eu comecei como vendedora. Então foi uma coisa natural. Daí virou um conceito.
A Daslu é uma edição. Não é um shopping porque shopping não edita o que vende. Por mais que ele escolha as lojas, elas são independentes. No nosso caso, não. Além disso, as lojas são todas interligadas. Não têm porta fechando. Não têm vitrines. Teremos espaços temáticos. Por exemplo, o espaço de praia terá todo um clima de praia, com a música adequada, areia…
Eu acho que não. Talvez no começo pela curiosidade natural das pessoas. Mas acho que não. Já somos uma atração turística e vendemos muito bem. O esquema não vai mudar.
Eu trouxe medalhinhas da Rue du Bac (igreja famosa de Paris). Fizemos uma missa na loja ainda em construção e distribuímos as medalhinhas para os funcionários presentes. Depois tudo foi concretado com as medalhinhas de Nossa Senhora. Achei legal. Ah, a loja vai ter uma capelinha…
Pode. Mas é que eu estou tão ciumenta com esse espaço… Na verdade o quarto andar não existia. Aquela laje de concreto estava pronta para receber um piso e um teto, quando eu achei judiação não usar aquele espaço. A vista é deslumbrante. Não conheço lugar com uma vista tão linda na cidade. No fim conseguimos fazer uma coisa diferente. O que eu queria fazer lá era um espaço para os nossos desfiles. Agora teremos os dois: festas e desfiles.
Tento não entrar nessa neura, senão fico doida. Não fico
pensando nisso não.
Tenho.
Não. Se deixar o trabalho interferir na minha vida pessoal,
fico louca. Estou bem tranqüila.