Uma assinatura vale ouro. Sem ela, boa
parte das transações financeiras não se
realiza. Com a quantidade de falsificadores
na praça, ninguém está seguro. Mas os golpistas não perdem por esperar. Começa
a ser usado um sistema digital que promete
ser à prova de fraudes. Conhecido como DSV,
da sigla em inglês para Verificação Dinâmica
de Assinatura, ele permite que qualquer
pessoa faça pagamentos e transferências bancárias ou feche negócios assinando contratos na tela do computador.

Em Londres, a Nationwide, uma das maiores instituições européias de crédito, aboliu o uso de senhas numéricas. Desde que o cliente adquira o DSV, ele pode conseguir financiamento sem ir ao banco. No Brasil, a Cetep, estatal paulista de
transmissão de energia, só realiza licitações dessa forma. Os especialistas descobriram que houve economia de três dias no expediente dos diretores,
que não perdem mais tempo folheando as 300 mil páginas de licitações que rubricam todos os anos.

Para usar o sistema é preciso dispor do programa israelense Penflow, que
custa R$ 6 mil e é vendido no Brasil pela Isocti. A engenhoca funciona como
se fosse um palmtop acoplado ao computador. Para ligá-lo, basta assinar com
uma caneta específica sobre a tela do dispositivo, que tem sensores para captar
a pressão e a velocidade da escrita e ainda para analisar a ligação das letras, sua inclinação e angulação.

Durante os testes, os técnicos tentaram burlar o sistema. “Para falsificar, seria preciso reproduzir o ato da escrita”, explica Aluízio Macário, da Isocti. Segundo ele, a partir de junho o Citibank e ABN-AMRO devem adotar o sistema. Ambos querem um equipamento que digitalize os cheques apresentados ao caixa. Em segundos, a leitora avaliaria se quem assinou foi o titular da conta, trabalho hoje feito por comparação visual.

A legislação brasileira já incorporou as assinaturas digitais. Para usá-las é preciso comprar certificados por R$ 350, no máximo, com validade de dois anos. Cada um ganha um cartão inteligente, protegido por senha, que contém códigos de segurança enviados via internet. Quem recebe tem os dados decodificados e checa se a assinatura é autêntica. “O problema é que se alguém tem acesso à senha pode usar o cartão alheio”, diz o professor de biometria do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Angelo Zanini. Para resolver esse problema, a Serasa vai implantar, em 2006, um sistema que combina o certificado com o software Penflow.

Intimidade – Mais do que a identidade, a caligrafia de uma pessoa revela traços de sua personalidade. A grafologia é a ciência que se dedica a estudá-los usando teorias psicanalíticas. Segundo José Bosco, autor de Grafologia: a ciência da escrita, as regiões inferior, média e superior das letras se relacionam com o id, o ego e o super ego, elementos fundamentais da mente humana. A alça de um “g”, por exemplo, diz muito sobre a sexualidade. Num “f”, ela mostra a capacidade intelectual. No eixo horizontal, os lados esquerdo e direito remetem, respectivamente, ao indivíduo e à sociedade.

Não é à toa que os autógrafos de celebridades são tão disputados. Mais do que objeto de recordação, eles podem denunciar a intimidade. Aí reside um dos
entraves à nova tecnologia. As pessoas temem que as instituições financeiras tirem proveito de dados privados. Apesar disso, uma pesquisa recente revelou que oito entre dez americanos preferem submeter-se a sistemas que evitem fraudes a memorizar tantas senhas. Aos poucos, o computador começa a revelar mais intimidades do que se pensava.