04/05/2005 - 10:00
Sinal amarelo no comércio exterior. Com o Banco Central (BC) ausente do mercado de câmbio e os juros em alta, o dólar entrou em queda livre na semana passada, causando tensão entre os exportadores. A moeda americana desceu ao piso de R$ 2,51 na quarta-feira 27, a menor cotação desde maio de 2002. Na quinta-feira 28 fechou a R$ 2,52. Dólar mais baixo significa real valorizado e mercadoria produzida por aqui mais cara para ser vendida lá fora. O setor de calçados foi o primeiro a sentir o golpe, com queda de 11% nas exportações nos primeiros três meses do ano em comparação ao mesmo período de 2004. A indústria do vestuário também começa a perder mercado para os chineses, imbatíveis quando a competição leva em conta o custo da mão-de-obra, infinitamente mais barata. “Com o dólar nesse nível, as encomendas caíram e vão continuar caindo drasticamente”, reclama Heitor Klein, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados. Só em março as vendas para o Exterior encolheram em 16%. Já os exportadores de cereais lutam para não perder volume em seus negócios, mas a rentabilidade está acompanhando a baixa na cotação das verdinhas, cerca de 10%.
Para parte da equipe econômica, o musculoso saldo de R$ 11 bilhões na balança comercial registrado neste ano é prova de que não há desaquecimento nas vendas externas. Mas economistas alertam que não é bem assim. O dólar baixo está causando estrago, mas de forma desigual. “O efeito da desvalorização do dólar não pode ser observado diretamente no saldo da balança porque a pauta de exportações brasileira é muito heterogênea. O efeito do dólar baixo é diferente em cada setor de exportação”, explica Roberto Gianetti da Fonseca, presidente da Fundação Centro de Estudo de Comércio Exterior (Funcex). Há setores em que a desvalorização do dólar não traz impacto porque eles têm poder de mercado e reajustam seus preços sem que o comprador reclame. A Vale do Rio Doce, por exemplo, segunda maior exportadora do País, aumentou em fevereiro o preço do minério de ferro em 71,5% e ninguém deixou de comprar. Os exportadores brasileiros de frango, que dominam 42,8% do comércio internacional, planejam aumentar as vendas em 10%. Já a Embraer, fabricante de aviões, é um caso à parte. Com cerca de 50% de sua matéria-prima importada, consegue compensar aumentos de preços com importações mais baratas. Sem falar nos chamados setores de exportação cativa, que vendem independentemente da taxa de câmbio. É o caso da área agrícola. O agricultor exporta mesmo com prejuízo, pois precisa escoar a safra. Além disso, o comércio mundial passa por um excelente momento. Cravou crescimento de 18% no ano passado e neste ano a previsão é de uma expansão de 12%. A economia brasileira deve permanecer surfando na onda internacional.
As preocupações dos economistas em relação à cotação do dólar também passam por um dilema econômico que envolve o Banco Central. Quanto mais sobem os juros, mais investimentos externos entram no País, atraídos pelas taxas altas. Aumenta a disponibilidade de moeda estrangeira na economia, empurrando as cotações da moeda americana para baixo. Como o dólar influencia uma infinidade de preços da economia, o grande temor é que o BC caia na tentação de usar a queda do dólar como mecanismo extra de controle da inflação em alta. Mas, segundo alguns especialistas, trata-se de ilusão. Os preços não caem na mesma magnitude e, quando o dólar volta a subir, eles acompanham. Empresários acham que o governo deve ajudar a esfriar a atividade econômica cortando seus próprios gastos, em vez de subir os juros. Simão Davi Silber, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), não acredita que o combate ao dragão tenha sido o único fator para o BC não segurar a cotação. Uma parte do problema do real valorizado é internacional. “Não tem como intervir para segurar essa tendência de queda”, diz ele. A desvalorização da moeda americana é mundial e tem origem no gigantesco déficit em conta corrente dos EUA, que ultrapassa os US$ 700 bilhões – mais de 5,5% do PIB americano e praticamente tudo que o Brasil produz em um ano.