04/05/2005 - 10:00
Após quatro anos de litígio, o banqueiro baiano Daniel Dantas resolveu vender à Telecom Italia os 10% de participação que seu banco, o Opportunity, detinha na Brasil Telecom (BrT). O negócio, de 341 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão), parece pôr fim a uma novela que incluiu investigações policiais, acusações de espionagem, indiciamento e muita polêmica jurídica. Para o advogado de Dantas, Francisco Mussnich, seu cliente foi inteligente: “Dantas pensou no futuro da BrT e defendeu até mesmo o interesse de seus adversários.” Os italianos também deverão absorver a operação da recém lançada BrT GSM, de telefonia móvel.
O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, disse que as operações não deverão acarretar prejuízos aos consumidores. Para Paolo Dal Pino, presidente da Telecom Italia para a América Latina, o acordo irá “criar valor” para todos os acionistas da BrT. “Poderemos construir um futuro competitivo e tecnológico para a empresa”, disse. Dos 341 milhões de euros, 291 milhões são ligados à aquisição das participações do Opportunity na cadeia de controle da BrT. Os 50 milhões restantes são destinados à transação sobre ações que correm na Justiça. Na noite da quinta-feira 28, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgou uma nota informando que aguarda o encaminhamento oficial da compra para se pronunciar. A operação depende de aprovação da Anatel para se concretizar. Mas não é só isso. Segundo a Telecom Italia, a aquisição das participações do Opportunity ainda depende de um eventual acordo com outros sócios do banco.
Há duas semanas, Daniel Dantas perdeu o controle da BrT e das operadoras de celular Brasil Telecom GSM, Telemig Celular e Amazônia. Depois foi indiciado, logo após prestar depoimento à Polícia Federal no Rio de Janeiro. A guerra entre a Telecom Italia e o Opportunity começou em 2001, durante a disputa pela compra da operadora gaúcha CRT. Nessa época, a BrT, controlada pelo Opportunity, acusou a Telecom Italia e o governo de inflarem o valor da CRT em US$ 250 milhões. A Kroll Associates foi acusada de ter praticado espionagem contra os italianos, a pedido de Dantas, durante as investigações para levantar as provas do desvio.
Representante informal da Telecom Italia no Brasil, o investidor Naji Nahas há meses tentava convencê-lo a vender a participação. As outras alternativas do banqueiro seriam reabrir uma linha de negociação direta com o Citibank ou renunciar ao controle das empresas e mover ações indenizatórias contra o Citi, a Telecom Italia e os fundos de pensão. Daniel Dantas parece ter optado pela saída mais sensata.