Nesta terça-feira 3, o presidente da Embraer, Maurício Botelho, e um grupo de engenheiros e executivos da companhia estarão na capital dos Estados Unidos, Washington, para apresentar à imprensa especializada o projeto de um novo avião que será produzido na fábrica de São José dos Campos, interior de São Paulo. Embora tenha sido cercado de sigilo, especialistas na área de aviação apostam que a nova aeronave chega para atender ao mercado de pequenos jatos com capacidade para até seis pessoas, conhecidos no mundo pela sigla VLJ (do inglês Very Light Jet, ou jatos muito leves). Com preços atraentes, entre US$ 1 milhão e US$ 2,5 milhões, esses pequenos aviões são vistos como o futuro da aviação executiva porque são mais econômicos, utilizam tecnologias inovadoras que facilitam vôos por instrumentos e materiais mais leves, caso da fibra de carbono.

Desde que lançou o Legacy, em dezembro de 2001, um jato executivo sofisticado, com capacidade para até 16 passageiros e preço salgado, entre US$ 16 milhões e US$ 20 milhões, a Embraer estuda a construção de uma aeronave mais “popular”, que atenda ao crescente mercado de executivos e empresários abonados. Dominado pelas companhias americanas, canadenses e européias. o mercado de jatinhos fatura alguns bilhões de dólares por ano no mundo. No Brasil, a aviação executiva já é a segunda maior do planeta, movimenta US$ 300 milhões anualmente e chega a vender entre 40 e 50 aeronaves, incluindo jatos e turboélices de vários tamanhos, inclusive o Legacy. Esse modelo, aliás, apesar do preço, é um sucesso de vendas – voa em 12 países e já vendeu 49 unidades.

Complexidade – O plano de vôo traçado pelos executivos da Embraer para fazer decolar o projeto leva em conta uma operação complexa que envolve várias áreas, como as de desenvolvimento, fabricação, venda e suporte técnico e pesados investimentos. Calcula-se que os recursos aplicados só no desenvolvimento dos modelos para testes serão de US$ 100 milhões a US$ 200 milhões. Não é à toa que o engenheiro Luís Carlos Affonso, com 22 anos de companhia e responsável pelo sucesso da família de aviões Embraer 170/190, foi convocado para comandar a área de jatos executivos da empresa. O esforço da empresa também visa a um
equilíbrio melhor entre as áreas de negócio. Hoje, 76% das receitas da companhia (R$ 10,2 bilhões em 2004) estão concentradas nas vendas de aviões comerciais que voam no mundo todo. A chegada do novo produto explica a insistência de Maurício Botelho em afirmar que o ano de 2005 será marcado por uma nova fase da aviação executiva na Embraer.

Mas é preciso voar mais rápido. Do projeto até a comercialização são necessários pelo menos dois anos. Duas companhias americanas estão com seus projetos de microjatos adiantados. O modelo Citation Mustang, da Cessna, fez seu primeiro vôo-teste de 141 minutos no dia 23 de abril. Outra que não está perdendo tempo é a Eclipse Aviation, que já prevê a venda de mil aeronaves de seu modelo Eclipse 500 por ano. Esse jato já fez três vôos- testes e espera autorização para vender as primeiras unidades em 2006. “Vai vender como banana. E vai se tornar uma febre no mercado”, exagera Walterson Caravajal, presidente da Heli Solutions, empresa especializada em propriedade compartilhada de aeronaves. Segundo ele, a Embraer está atrasada. Mesmo assim, acredita que os jatinhos brasileiros têm mercado crescente no Brasil e as vendas devem superar dez unidades por ano.