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A grande família do Sistema Solar está prestes a ganhar mais três novos membros. Na quinta-feira 24, cientistas da União Internacional dos Astrônomos (IAU) se reunirão para votar se Caronte, Ceres e Xena, até agora considerados simples asteróides, serão promovidos ao status de planetas. No caminho inverso, na mesma reunião será decidido também o futuro de Plutão – que é planeta, mas pode virar asteróide. Fora da comunidade científica, o assunto também vem despertando interesse, sobretudo para astrólogos e pessoas que não começam o dia sem consultar as previsões de seu signo. Motivo: a existência de três novos planetas significará que mais signos do zodíaco (são 12 ao todo) serão regidos por dois astros, como já ocorre atualmente com aquário, escorpião e peixes. Estudos preliminares da órbita e do comportamento de Ceres permitem afirmar que ele influenciará os virginianos, que até agora só estavam sob o domínio de Mercúrio. Já o papel de Xena e Caronte ainda é um mistério astrológico.

Essa disputa de nomenclatura entre planetas e asteróides se arrasta há dois anos e acirrou-se com o aprimoramento tecnológico dos instrumentos de observação. Houve um tempo em que os astrônomos eram unânimes: qualquer objeto cósmico esférico e sem luz própria, cujo diâmetro tivesse pelo menos dois mil quilômetros, poderia ser classificado como planeta desde que girasse ao redor de uma estrela. O problema é que esse também é o perfil de quaisquer asteróides de grandes proporções, antes invisíveis mas que agora podem ser observados com relativa facilidade através dos modernos observatórios europeus e americanos. A partir daí, ficou difícil para os astrônomos distinguirem uma coisa da outra no campo sideral.

A nova definição de planeta leva em conta o centro de gravidade dos astros e, nesse conceito, o caso da Lua é exemplar: pelo critério antigo ela poderia até ser um planeta, mas isso seria um erro pelos métodos atuais porque o seu centro de gravidade se encontra na Terra. O contrário acontece com Caronte. Sempre se acreditou que ele fosse um satélite de Plutão. Os novos estudos mostram, no entanto, que ambos formam o que se chama de “sistema binário”: um gira ao redor do outro e o centro de gravidade encontra-se entre eles. Pode-se dizer que, enquanto o cordão umbilical da Lua está na Terra, os cordões de Caronte e de Plutão se encontram num ponto comum do espaço. “É isso que estabelece o equilíbrio da órbita desses corpos”, diz Amâncio Friaça, astrônomo da Universidade de São Paulo.

A sofisticação dos métodos de estudo assentou a última pá de cal nos velhos conceitos e isso pode levar à revisão do status de Plutão. Muitos astrônomos o consideram um asteróide porque sua órbita pouco se parece com a dos planetas mais próximos do Sol. “Ele descreve uma rota de longa duração e elíptica que é diversa das rotas circulares dos outros astros”, diz Friaça. Não bastasse esse fato, Plutão está posicionado nos confins do Sistema Solar, próximo ao cinturão de Kuiper, que é um conjunto de asteróides. Nada muito diferente de Ceres, que, descoberto em 1801, já foi planeta e virou asteróide apenas porque era vizinho de um cinturão deles. Os maiores defensores de Plutão são os EUA, que estão pressionando os membros do comitê da IAU para mantê-lo na condição que está. Nesse ponto, porém, o que está em jogo para os americanos é muito menos a ciência e muito mais a vaidade. Foram eles que descobriram Plutão em 1930. E, desde então, não descobriram nem batizaram outro planeta.