23/08/2006 - 10:00
A acusação de envolvimento com a máfia dos sanguessugas atingiu em cheio as pretensões do senador Ney Suassuna (PMDB) de voltar ao Senado. Ele jura que não faz parte do esquema das ambulâncias e busca apoio até na esquerda paraibana para manter a cadeira que ocupa na Casa desde 1991. Mas antes de costurar apoios, Suassuna precisa convencer o eleitor. A denúncia arrancou-lhe sete pontos porcentuais na corrida para o Senado. Na tentativa de recuperar os votos perdidos, Suassuna passou a freqüentar mais seu Estado natal, a Paraíba, do que a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde passa grande parte de seu tempo. Dono de um patrimônio declarado de R$ 15,7 milhões, ele acredita que os estragos provocados pelo escândalo não o obrigarão a aumentar seus gastos. Sua previsão é, no máximo, gastar R$ 5 milhões para se eleger. Procurado por ISTOÉ, Suassuna dá sua versão para as denúncias.
ISTOÉ – Como está a campanha após a acusação de envolvimento
com os sanguessugas?
Ney Suassuna – Dentro das agruras, das amarguras e do sentimento de injustiça, estou tocando a campanha.
ISTOÉ – O sr. vai perder votos no Estado?
Suassuna – Não creio que perca no final. Mas no começo eu perdi, não tenha dúvida.
ISTOÉ – O sr. vai renunciar, senador?
Suassuna – Isso é que é uma pergunta sem fundamento, meu amigo. Como renunciar? Pelo contrário. Estou em campanha para ganhar.
ISTOÉ – A acusação de envolvimento com os sanguessugas vai aumentar os gastos de sua campanha?
Suassuna – Vai aumentar o trabalho de convencimento. Não alterei meu
plano de gastos.
ISTOÉ – Há escutas da Polícia Federal onde aparece o nome do sr. Isso
não compromete?
Suassuna – Claro que não. Se eu virasse para você e dissesse que alguém falou no seu nome e você não conhecesse a pessoa, o que é que você teria a ver com isso?
ISTOÉ – O seu assessor Marcelo Cardoso disse que o sr. tinha conhecimento de tudo que ele fazia no gabinete.
Suassuna – Eu não entendo vocês da imprensa. O (Romeu) Tuma (corregedor do Senado) não disse essa frase. O Tuma disse: “Ele disse que o senador sabia das emendas.” Ele não disse “tudo”.
ISTOÉ – Mas a frase do Tuma é: “Ele deixou claro que nunca fez nada sem conhecimento do senador, que seria deslealdade.”
Suassuna – Mas ele (assessor) diz: “O senador nunca soube de nada, não conhecia essas pessoas, o senador não é um homem de aceitar nada desonesto.” Aí o Tuma saiu e escolheu uma frase desse tamanhinho!
ISTOÉ – O sr. sempre foi líder de opinião dentro do partido. O PMDB está abandonando o sr.?
Suassuna – Não. Quem passou a me tratar como marginal foi a imprensa. Passou
a fazer perguntas como essa que você está fazendo. Parece até que eu sou um bandido sendo interrogado. Já saiu na imprensa que meu genro recebeu dinheiro, só que eu tenho três filhos homens, solteiros.
ISTOÉ – Ao enviar os processos direto para o Conselho de Ética, o presidente do Senado, Renan Calheiros, não acabou jogando os senadores na forca?
Suassuna – Eu acho que ele fez o correto. E eu estou muito tranqüilo. E eu não
devo nada. Estou esperando que me dêem oportunidade de defesa, que eu já
fiz e ninguém leu.
ISTOÉ – Por que o sr. foi citado pela família Vedoin?
Suassuna – Por uma razão simples. Tem três ofícios que não fui eu que assinei.
Se o cara leva de volta assinado, logo o senador sabia.
ISTOÉ – Depois das denúncias, o sr. conversou com o presidente Lula?
Recebeu apoio dele?
Suassuna – O presidente Lula tem tido muitos problemas de agenda. Não falei com ele pessoalmente. Mas eu tenho certeza de que o presidente Lula sabe, até pela experiência própria de ser acusado injustamente, que acusações no Brasil hoje são uma atrás da outra.
ISTOÉ – O sr. vai fazer campanha para o presidente Lula?
Suassuna – Estou fazendo campanha para o presidente Lula. Nesta hora, eu estou aqui reunido com o coordenador da campanha dele, com o PCdoB, com o PSB e com o PCB. O presidente Lula vai ser reeleito. Aqui na Paraíba vai ter uma grande votação para ele.
ISTOÉ – Como é que estão as pesquisas? O sr. perdeu votos depois da denúncia?
Suassuna – Estou na frente. Perdi alguns pontos, mas vou recuperar. Eu perdi pelo menos uns sete pontos.
ISTOÉ – O sr. é inocente?
Suassuna – Claro que sou inocente. Inocente só, não. Sou inocente e injustiçado. Estou com todas essas emoções de quem está injustiçado. É muita maldade. Você sabia que eu dei 82 ambulâncias do meu bolso?
ISTOÉ – Do bolso?
Suassuna – Do meu bolso. Enfiei a mão no bolso e no primeiro mandato dei na Paraíba 82 ambulâncias. Ou dei nova, ou consertei, deixando zerinho. Uma parte comprei nova, outra parte peguei velha, deixei zerinho e entreguei de volta.
ISTOÉ – Como é que se classifica isso?
Suassuna – É doação. Eu doei. Eu doei 82 ambulâncias do meu bolso. Do
governo eu recebi 29.
ISTOÉ – Quase três vezes mais ambulâncias com dinheiro do próprio bolso
do que em emendas?
Suassuna – A Planam só vendeu 14 dessas 29. E dessas 14 ambulâncias, 11 eu dei para prefeituras cujos prefeitos eram adversários meus. Alguém inteligente e de má-fé já vê por aí. Eu vou chegar para o cara da oposição e dizer: “Olha, compra nessa firma.” Ou: “Dá uma propina aí?”
ISTOÉ – O sr. é rico, não é senador?
Suassuna – Graças a Deus.
ISTOÉ – É dono da rede de colégios Anglo e mais o quê?
Suassuna – Homem, num país de tantos seqüestros, não vamos falar de bens não.
ISTOÉ – Os opositores do sr. aí na Paraíba estão usando isso na televisão,
no horário político?
Suassuna – Na televisão, não. Mas eles aqui têm alguns jornais, que os acompanham, que fizeram um carnaval. A malícia é muito grande.