30/08/2006 - 10:00
A deslumbrante vista da Baía de Guanabara, com o Pão de Açúcar, foi o cenário que seduziu o artista plástico inglês Bob Nadkarni a ponto de escolher como endereço a favela Tavares Bastos, no Catete, zona sul do Rio de Janeiro. E foi nesse local que inaugurou recentemente a pousada The Maze (o labirinto em inglês), empreendimento turístico aparentemente incompatível com o estigma de violência dos morros cariocas. “Aqui é calmo e os gringos não têm medo”, explica. Na região, o último registro capaz de abalar esse relativo sossego foi há seis anos, com a ameaça de invasão pela quadrilha da favela vizinha, a Santo Amaro. A clientela ainda conta com poucos brasileiros, mas Nadkarni aposta na beleza do lugar para atrair mais gente. “Em outros países, são os ricos que moram nos morros, com as paisagens mais bonitas. No Rio, é o contrário”, comenta. The Maze é um dos hotéis abertos em ambientes ainda relativamente seguros dentro de favelas cariocas.
Quem vê de fora a The Maze não imagina o casarão que se esconde por trás da discreta fachada. A arquitetura é fragmentada, com diversos níveis de piso, paredes angulosas e decoradas com arcos em forma de Pão de Açúcar. As sete suítes, simples e charmosas, têm terraço debruçado sobre a vista. A pousada tem minipiscina e até uma atração cultural. Neste mês, o estabelecimento passou a abrir ao público às sextas-feiras, para noites de jazz. Não é o único toque de arte. A sala tem 100 metros quadrados, com decoração rústica e paredes chapiscadas de cimento, cobertas pelos monumentais quadros figurativos e abstratos de Nadkarni. Foi por causa de uma exposição que o inglês conheceu o francês Roland Urbinati, 59 anos, seu hóspede há quatro meses, enquanto procura uma casa para alugar no bairro de Santa Teresa. “A favela é tranqüila, o único elemento perigoso
é Bob”, brinca.
O simpático inglês de 63 anos, cabeleira grisalha e olhos azuis, desembarcou na Bahia em 1972, quando o navio que o levava ao Equador quebrou. “Em 25 minutos fui conquistado por uma mulher. Fiquei na cidade com um jeans e duas camisetas”, diverte-se. Depois, mudou-se para o Rio, onde viveu no Leme e no Catete. Um dia, teve de levar a empregada adoentada em casa, na favela Tavares Bastos. Ao olhar pela janela do casebre, resolveu montar ali seu ateliê, antes de se transferir definitivamente para o local, há 25 anos.
Pousadas em favelas são uma evolução dos passeios turísticos à Rocinha, iniciados em 1992. A Favelinha, com fachada branca e avarandada que se destaca em meio ao casario do Pereirão, próximo à Tavares Bastos, abriu no réveillon de 2005 e tem sido procurada por estrangeiros. Eles desejam experimentar o cotidiano da favela, uma curiosidade antropológica. Como no caso da The Maze, o empreendimento também foi lançado por alguém de fora, o alemão Hoger Zimmer. Para que novas pousadas surjam nesses lugares, falta transformar os morros cariocas – onde estão algumas das mais belas vistas da cidade – em locais seguros de visitar. Com isso, mais pessoas teriam a chance de enxergar as maravilhas do Rio por outros ângulos.
R$ 50 – Esse é o valor da diária na baixa temporada. Inclui café da manhã