Foi rápido e fulminante o processo de escolha do novo papa. Durou só dois dias e desiludiu aqueles que acreditavam que a Igreja Católica pudesse corrigir os rumos de seu conservadorismo, pelo menos em questões mais gritantes, como a homofobia, o papel da mulher na Igreja, a contracepção, a interdição das pesquisas com células-tronco embrionárias. Ainda que essa mudança de rota só fosse feita pelo interesse em remendar os furos em suas cercas, por onde o rebanho teima em escapar. Dos 117 cardeais previstos para se trancarem na Capela Sistina, 115 se apresentaram na segunda-feira 18 de abril. Os cardeais Alfonso Antonio Suárez Rivera, o arcebispo de Monterrey, no México, e Jaime Sin, de Manila, Filipinas, não compareceram porque ficaram doentes.

Depois de duas fumaças pretas, uma na segunda-feira 18 e outra na manhã da terça-feira 19, da chaminé do Vaticano veio a fumaça branca às 17h50 da
terça-feira. A rapidez da escolha surpreendeu e o nome escolhido, também. Pelo menos à ala mais progressista da Igreja Católica, inclusive cardeais que apontavam Carlo Maria Martini, o cardeal emérito de Milão, como o nome para quebrar a ortodoxia de João Paulo II. Já para a América Latina, que apostava em dom Cláudio e nos cardeais do México, de Honduras e da Argentina, sobrou a missão de anunciar o papa Bento XVI. Coube ao cardeal chileno Roger Arturo Medina Esteves a tarefa de pronunciar o “habemus papam”.

Agora resta a esperança de uma reviravolta na ortodoxia de Joseph Ratzinger. O cardeal alemão – que já comparou a clonagem humana às armas de destruição em massa, disse que o rock é perigoso para o cristianismo e que as notícias sobre a prática de pedofilia de padres católicos fazem parte de campanha para desestabilizar a Igreja Católica – foi um fiel auxiliar de João Paulo II na definição dos rumos da Igreja contra as demandas da sociedade moderna. Mas, como dizem os católicos, esperar por milagres não é pecado.