DIVULGAÇÃO/ VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO/FOLHA IMAGEM

GUERRA Presa ao tentar entrar nos EUA com US$ 56,5 mil não declarados, a bispa Sônia não pode sair de sua casa em Miami (acima) e faz pregações via satélite

A imagem não é exatamente a de um bunker. Mas é de sua confortabilíssima casa em Miame (EUA) que a bispa Sonia Hernandes enfrenta as seguidas investidas do Ministério Público sobre a polêmica contabilidade da igreja Renascer. Permanecer trancafiada em casa não é uma questão de opção. Ela e o marido, Estevam Hernandes Filho, estão presos nos EUA. Ele em regime fechado, ela em regime domiciliar. Cada um irá cumprir cinco meses de cada regime de forma alterada, pois foram flagrados entrando no país com US$ 56,5 mil não declarados. E, ainda que pudessem voltar ao Brasil, seriam presos aqui, pois estão com prisão decretada e respondem a processos por lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. O último petardo contra a bispa e sua igreja foi disparado na segunda-feira 29 pelo juiz André Carvalho e Silva de Almeida, da 30ª Vara Criminal de São Paulo. Ele aceitou denúncia formulada pelo Ministério Público paulista, que acusa o casal religioso de sonegar R$ 77 mil de ICMS, utilizando para tanto notas fiscais frias de empresas que seriam de propriedade dos Hernandes, como a Publicações Galamiel e Microservice Teen. Desta vez, a resposta da igreja e de seus líderes não questionou o conteúdo das acusações, mas sim a necessidade ou não de um processo judicial. Em nota oficial, a Renascer informou que os débitos com a Fazenda paulista estão em processo de liquidação, pois foram parcelados e estão sendo pagos como acordado. "Os pagamentos começaram a ser feitos antes de o processo ser aceito pelo juiz e, portanto, essa ação poderá ser extinta", explica o advogado Luiz D’Urso.

Uma semana antes de ser instaurado o processo por sonegação, o promotor Marcelo Mendroni, também do Ministério Público paulista, acusou a bispa e seu marido de usarem dinheiro doado pelos fiéis a instituições de caridade para aumentar o patrimônio pessoal. Desta vez, a reação da bispa foi contundente. Afirmou que o promotor agia de má-fé, negou qualquer desvio, convidou jornalistas e autoridades a visitarem as entidades assistenciais mantidas pela Renascer e se definiu como vítima de perseguição religiosa no Brasil. Segundo o promotor, porém, a manutenção das entidades não consome sequer 0,5% do que é arrecadado nos cultos da Renascer.

De seu bunker na Flórida, a bispa Sonia também tem procurado manter o rebanho. O bracelete que todo o cidadão em prisão domiciliar nos EUA precisa usar para ser localizado a qualquer momento não impede que a bispa use um sistema de transmissão via satélite para se comunicar com seus seguidores no principal templo da igreja, em São Paulo. Não há indícios de que a prisão nos Estados Unidos e as seguidas descobertas do Ministério Público estejam afetando a crença dos fiéis. Em junho deste ano, pela primeira vez a Renascer promoveu a Marcha para Jesus sem a presença de seus líderes. A bispa se comunicou através de um monitor e a Polícia Militar constatou que mais de um milhão de pessoas participaram do evento.