25/06/2008 - 10:00
"Os brasileiros são livres em sua sexualidade e nós só temos a aprender com eles"
Marina Abramovic, artista
Desde que visitou o Brasil pela primeira vez, em 1989, a artista sérvia Marina Abramovic voltou várias vezes para pesquisar minerais como fontes de energia. Nada de petróleo ou combustíveis fósseis. A combustão em questão, aqui, se dá no contato do corpo humano com quartzos, cristais, ametistas, lápis-lazúli, hematita, cobre e ferro. Minerais e pedras preciosas são utilizadas na fabricação de dez Objetos transitórios para uso humano, que a partir de quinta-feira 26 poderão ser testados pelo público da galeria Brito Cimino, em São Paulo. "O público tem que deixar de ser voyeur e passar a ser performer. Quero que ele sinta a energia do material e tenha sua própria experiência", diz Marina, reconhecida como uma das mais ativas e importantes artistas de performance art da atualidade.
Marina Abramovic utiliza o próprio corpo como ferramenta de expressão artística desde o começo dos anos 1970. No auge do feminismo, quando uma artista podia ser malvista ao usar batom ou esmalte, Marina desafiou o padrão apresentando uma performance em que escovava agressivamente o cabelo, repetindo: "A arte tem que ser bela, a artista tem que ser bela." Sexualidade, espiritualidade, dor e morte são as diretrizes básicas de seu trabalho. "Gosto de superar o medo. Entre os maiores temores do ser humano estão o medo da dor e da morte. Enceno situações difíceis, tornando-me um exemplo de como confrontar-nos com nossos próprios limites", diz a artista.
Durante a Bienal de Veneza de 1997, Marina passou cinco dias retirando pele e carne de ossos de animais em uma ação artístico-política contra a guerra civil iugoslava. Enquanto raspava os ossos diariamente, por seis horas, cantava canções da infância vivida em Belgrado. Ela coloca seu corpo freqüentemente em situações de risco e sofrimento. Talvez por isso goste tanto do Brasil e busque aqui a matéria-prima de alguns de seus trabalhos. "A relação do brasileiro com o corpo é muito saudável. Os brasileiros são livres em sua sexualidade e nós só temos a aprender com eles." Em outubro, ela volta para performances na 28ª Bienal de São Paulo.