Um método inovador no tratamento das fobias foi desenvolvido com sucesso por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). A novidade é uma terapia que controla o transtorno com o uso de técnicas que enfraquecem as conexões que se dão no cérebro cada vez que o indivíduo vê ou entra em contato com o objeto ou situação temidos. Diante do estímulo fóbico, essas conexões transmitem uma mensagem de alarme do tálamo (parte do cérebro pela qual entram as informações sensoriais) até a amígdala (núcleo cerebral envolvido no processamento das emoções), resultando em reações como taquicardia, sudorese, tremores e até falta de ar.

Ao contrário dos tratamentos comuns, que associam remédios a sessões de contato gradual do paciente com o causador do medo, a técnica atua diretamente nos circuitos cerebrais sem o auxílio de remédios e permite que a pessoa mantenha distância do que teme ao longo do tratamento. É uma ótima alternativa, já que muitos pacientes nem pensam em procurar ajuda com medo de terem de ficar frente a frente com o motivo do pânico.

Para vencer o problema, os especialistas criaram situações falsas de medo com o objetivo de provocar as reações cerebrais. Submeteram 15 voluntários com medo de aranha a sessões de vídeos que exibiam imagens com referências sutis ao animal. Podiam ser galhos de árvore ou mesmo cabelos no estilo rastafári. Essas exposições bastavam para fazer disparar os sinais enviados de um neurônio a outro no tálamo. Mas, como a imagem não era do objeto real do medo, os neurônios da amígdala não respondiam aos estímulos. Com isso, a conexão tálamo-amígdala foi enfraquecendo. “A sucessão de estímulos fazia o tálamo mandar mensagens falsas para a amígdala, que passou a não responder mais a esses alarmes. A comunicação perdeu força e efeito”, explica a psicóloga Laura Granado, que defendeu a eficácia da técnica em tese de mestrado. No final de seis semanas, uma aranha viva foi mostrada aos pacientes, que conseguiram se aproximar do animal sem esboçar as reações costumeiras. A terapia foi criada a partir de um trabalho que analisa o funcionamento do tálamo e da amígdala desenvolvido pelo pesquisador Francisco Peláez. Apesar de os testes terem sido feitos em pessoas com aracnofobia, a técnica poderá ser aplicada contra outras fobias. Mas, por enquanto, novos estudos precisam ser feitos antes de ser oferecida a mais pacientes.

A fobia é caracterizada por um medo incontrolável e irracional de um objeto ou de uma situação. É um problema que perturba e traz sofrimento. Quem sabe bem disso é a médica Silvia Mazarolo (SP). O medo de aranhas a acompanhava desde a infância. “Se notasse a presença, entrava em crise. Era uma tortura”, diz. Silvia foi uma das voluntárias na pesquisa. Hoje, se considera curada. “Não percebi quando parei de sentir medo. Sei que após o tratamento abri uma caixa que tinha uma aranha dentro”, conta. Outro teste aconteceu, sem querer, em sua casa. Numa cena que lembra Psicose, o thriller de Alfred Hitchcok, a médica estava tomando banho e se deparou com uma aranha no boxe. No passado, teria gritado de horror. Desta vez, Silvia não perdeu tempo. Usou o frasco de xampu e mandou o bicho longe.