06/09/2006 - 10:00
"Há anos o chamávamos de Veículo de Exploração Tripulada, mas hoje ele tem um nome: Órion.” Foi o que disse o astronauta americano Jeff Williams enquanto gravava uma mensagem exibida pela Nasa na semana passada, durante o anúncio de sua nova espaçonave. Era para ser surpresa, mas um erro técnico fez com que a mensagem fosse transmitida ao vivo por rádio dez dias antes. Com o incidente, a agência espacial americana teve de se antecipar e revelar o segredo. Dois consórcios de empresas estavam concorrendo ao contrato para a construção de Órion: a Boeing (em parceria com a Northrop Grumman) e a Lockheed Martin. Na sexta-feira 1º, a Nasa bateu o martelo com a Lockheed, que já é a maior fornecedora de produtos de defesa para o governo americano. As grandes estruturas e os módulos da nova espaçonave serão fabricados em Nova Orleans, sendo que os últimos retoques serão dados no Kennedy Space Center, na Flórida. O projeto custará US$ 3,9 bilhões.
O primeiro vôo de Órion está previsto para 2014 com a ida de uma equipe de astronautas à Estação Espacial Internacional. Para o lançamento da nave, os engenheiros da Nasa desenvolveram o foguete Ares 5, que levará a carga, e o Ares 1, um receptáculo que abrigará a Órion até atingirem a zona de gravidade zero, quando o Ares 1 se desprende deixando a nave solta no espaço.
As formas de Órion se parecem com as da Apollo 11, mas ela será 2,5 vezes maior. Com cinco metros de diâmetro, a nova espaçonave terá o formato de um cone, considerado o mais seguro para a entrada na atmosfera terrestre, evitando o superaquecimento que pode levar a nave à explosão. Foi o que aconteceu com o Columbia, em 2003. Os especialistas estão preocupados porque, até 2020, a Nasa pretende enviar missões tripuladas à Lua e a Marte e os estudos preliminares revelaram que, ao retornar de lugares tão distantes, Órion estaria a uma velocidade dezenas de vezes superior à dos ônibus espaciais atuais, fator que provocaria uma explosão por superaquecimento.
Apesar do design antigo, Órion esbanja em tecnologia. A novidade que mais chama a atenção é o mecanismo de propulsão. Os motores serão acionados a partir de uma fissão nuclear, um processo de quebra dos átomos que libera gigantescas quantidades de energia. Será como explodir uma bomba atômica. O calor liberado vaporizará os discos propulsores que serão convertidos em plasmas aquecidos
a dezenas de milhares de graus, gerando uma força grande o bastante para fazer a nave subir.
Desenvolvida para o governo americano pelo físico Theodore Taylor, em 1958, essa tecnologia de propulsão foi estudada durante sete anos e, estima-se, consumiu mais de US$ 11 milhões até a pesquisa ser interrompida na década de 1960 devido aos problemas gerados pelo armazenamento do lixo nuclear. Com o fim da guerra fria e o desenvolvimento de tecnologias seguras de obtenção de energia por fissão nuclear, o governo americano autorizou a retomada do projeto.
As novidades não param aí. Como missões a outros planetas exigiriam mais tempo de permanência no espaço, a Nasa está projetando estações de pesquisa em solo lunar. Uma das dificuldades seria o suprimento de oxigênio para viagens com duração superior a 30 dias. Para resolver o problema, os cientistas estudam transformar a areia da Lua em gás. Afinal, quase metade das moléculas do solo lunar tem oxigênio em sua composição. “Basta vaporizar tudo isso e os astronautas teriam de onde tirar oxigênio para respirar”, diz Eric Cardiff, do Centro de Vôos Espaciais Goddard, da Nasa. Nos testes iniciais, 20% de um solo parecido com o da Lua “virou ar”. O que ninguém sabe ainda é como será possível alcançar esse novo estágio da exploração espacial com o corte de verbas que ameaça até mesmo a manutenção de um ônibus espacial.