Apesar dos esforços do
presidente Lula e do PMDB
governista para assegurar o apoio da legenda à reeleição do petista em 2006, a cada rodada de números, como
os da pesquisa CNT/Sensus divulgada na terça-feira 19, a consolidação da candidatura do secretário de Governo do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, fortalece os setores peemedebistas que defendem uma candidatura própria. Embora Lula vença no primeiro turno nos vários cenários simulados pelo levantamento, o que chama a atenção é o desempenho de Garotinho. Ele é o mais forte concorrente de Lula em todos os cenários em que aparece. Garotinho vence adversários tucanos, como os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Minas Gerais, Aécio Neves. O mesmo acontece quando entra na disputa o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Aliados do presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP) – defensor da candidatura própria – apostam que dificilmente Garotinho deixará de ser o nome do partido na disputa pelo Planalto, uma vez que os números apontam para um patamar de 15% num momento em que as candidaturas não estão postas, nem expostas. Garotinho significa ainda uma alavanca para, no mínimo, 17 nomes fortes que disputarão os governos dos Estados. Eles lembram ainda que está valendo a decisão da convenção nacional, realizada em dezembro passado, que optou pela candidatura própria do PMDB à Presidência.

As articulações dos governistas do partido para dobrarem a legenda na convenção marcada para junho de 2006 e empurrá-la para juntar-se ao bloco de Lula não assustam os setores alinhados a Temer e o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia. Quércia está disposto a sair candidato ao Palácio dos Bandeirantes para pôr fim às pressões planaltinas para que o PMDB indique o vice na chapa em São Paulo, que seria encabeçada pelo senador petista Aloizio Mercadante. Para os peemedebistas de oposição, será muito difícil convencer o partido a derrubar uma candidatura, como a de Garotinho, praticamente consolidada, e mais: conseguir dois terços da convenção para aprovar uma aliança com o PT. A segunda opção é mais remota ainda. Seria o governo Lula estar nas alturas junto à opinião pública em maio ou junho do ano que vem, data da convenção.

O PMDB é um dos maiores beneficiados do estilo
político do PSDB, que prefere não apostar todas as
fichas em um só nome, cozinhando em banho-maria as pretensões de Geraldo Alckmin. Enquanto o governador vai tentando mostrar sua gestão e viabilizar nacionalmente seu nome, ficam expostos no mesmo poleiro Aécio Neves (MG), o prefeito José Serra (SP), o senador Tasso Jereissati (CE) e, por fim, Fernando Henrique Cardoso. FHC diz aos aliados do governador paulista que a vaga é de Alckmin, mas ao mesmo tempo brinca com Aécio Neves, como o próprio revelou em programa de tevê, dizendo que pretende ficar só quatro anos na Presidência da República e, por isso, pode ter seu apoio político para a empreitada. Como se não bastasse, Alckmin não será a estrela, como esperava, do programa nacional do PSDB que vai ao ar no fim de abril. A decisão de abrir o leque foi do diretório nacional, comandado pelo prefeito José Serra.

Prévias – Para unir o PMDB e dificultar o tapetão, Temer vai inovar ao instituir, a exemplo dos EUA, uma espécie de “primárias” entre os filiados para a escolha do nome do PMDB que disputará a Presidência. Com isso, os interessados em se consolidar estarão em pré-campanha, já a partir de agosto, turbinando o partido nos principais Estados do País. A idéia agrada, e muito, aos governadores. Junto com as prévias, o partido pretende fazer ainda um recadastramento de seus filiados, calculados hoje em 2,5 milhões. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), um aliado de Lula, já admitiu que a discussão de uma aliança de seu partido com o PT para as eleições presidenciais terá “de ficar para depois”. Preferiu destacar a necessidade de união em torno da governabilidade e da posição estratégica que o PMDB representa no cenário político.

A candidatura própria ganhou um aliado peso pesado: o ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa. Ele esteve em Brasília com o ex-governador Garotinho para encontros com Temer e Renan, quando reforçaram o discurso de independência em relação ao Planalto. Lessa, que disse se orgulhar de pertencer ao PMDB do U (de Ulysses Guimarães), aproveitou para atacar a política econômica do governo, em especial a manutenção das altas taxas de juros. Lessa será o responsável pelo programa alternativo do partido para a campanha peemedebista de 2006. “A última campanha presidencial consolidou no governo Lula a idéia de mudança, que acabou não acontecendo”, afirmou o ex-presidente do BNDES.

Mas não é só o avanço de Garotinho que se torna
uma pedra no caminho de Lula e do PMDB que
integra seu governo. O desempenho pessoal do presidente, conforme a avaliação feita entre 12 e
14 de abril pela CNT-Sensus, caiu. De fevereiro para abril, o índice passou de 66,1% para 60,1%. A pesquisa foi feita em 195 municípios das cinco regiões do País. Ouviu dois mil eleitores e tem uma margem de erro de três pontos porcentuais.