Em torno do fantasma de Luiz Maria Argaña, ex-vice presidente do Paraguai, começou a se desenhar uma nova farsa política. A primeira ocorreu na manhã de 23 de março de 1999, quando os paraguaios foram surpreendidos com a notícia de que o vice-presidente fora vítima de um atentado quando se dirigia de sua casa ao gabinete. Lideranças de oposição foram responsabilizadas pelo magnicídio e o espectro político do país mudou. Mas tudo não passou de uma macabra armação. Desde 2003, ISTOÉ vem publicando uma série de reportagens com provas de que o atentado de março de 1999 foi uma farsa. Argaña já estava morto quando os tiros foram disparados contra seu carro. Agora, sem que houvesse nenhuma divulgação, a viúva de Argaña, Maria Tereza Contreras, no final de junho, entrou com uma representação no Ministério Público do Paraguai alegando que as fotos e o filme usados para desmascarar a armação do atentado foram montadas em computador. Alegou ainda que as conclusões emitidas pelos legistas brasileiros e argentinos denunciando a farsa foram falseadas. Na representação, Maria Tereza acusa Fabiola Oviedo (filha do general Lino Cesar Oviedo, preso há dois anos e meio, acusado pela morte de Argaña), Darsy Woroniecki e Carmen de Arias (responsáveis pela Coordenação de Familiares de Presos e Perseguidos Políticos do Paraguai) de terem repassado o material falsificado à imprensa. Tudo mentira. O material usado por ISTOÉ foi obtido junto ao processo que apurou a morte do vice-presidente e se trata de documentos oficiais. Os pareceres dos legistas foram feitos a pedido da revista e publicados exatamente com o teor original. ?Não houve nenhuma deturpação do que foi concluído. É inquestionável que Argaña não morreu na hora do atentado e que os tiros disparados contra seu carro não foram os mesmos que atingiram seu corpo?, reafirma o legista Nelson Massini, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e um dos mais conceituados médicos legistas do Brasil. Ainda no mês de junho, a procuradora Teresa Aguirre abriu processo para investigar a denúncia promovida pela viúva de Argaña. O problema é que se trata de um processo fantasma. O artigo 17 da Constituição do Paraguai estabelece que todos os investigados devem ser avisados do que pesa sobre eles e acompanhar todos os ritos processuais. Apesar do dispositivo legal, até a quarta-feira 30 nenhuma das três acusadas conhecia o teor da denúncia feita pela viúva de Argaña. ISTOÉ obteve cópia do processo, que já está em seu segundo volume e conta com 256 páginas. Às acusadas, por intermédio de seus advogados, Teresa Aguirre informou que não havia um processo tramitando. Entretanto, consta nos registros do Ministério Público que o processo teve início em 20 de junho. ?Asseguro que haverá total transparência nas investigações. Nada correrá em segredo ou de maneira a favorecer este ou aquele grupo político?, afirmou a ISTOÉ na manhã da terça-feira 29 o chefe do Ministério Público do Paraguai, Rubén Amarilla. ?Estou empenhado em mudar a imagem do Ministério Público e garantir sua total independência?, acrescentou. Amarilla está há um ano comandando a instituição, sucedendo a Oscar Latorre, ex-advogado de Argaña. Para chegar à conclusão de que o atentado de março de 1999 foi uma armação política, legistas brasileiros e argentinos analisaram detalhadamente o filme feito durante a autópsia do corpo do vice-presidente. Examinaram também as fotos feitas pela polícia técnica no local do atentado e comprovaram que os tiros disparados na rua não foram os mesmos que atingiram Argaña. Além das provas tecnocientíficas, ISTOÉ localizou uma série de testemunhas que relataram o fato de o vice-presidente já estar morto quando foi colocado no carro. Entre essas testemunhas está o próprio motorista de Argaña, que sobreviveu à emboscada. Como contra esses fatos não há argumentos, os argañistas tentam agora promover a segunda farsa. A denúncia feita pela viúva do vice-presidente é uma tentativa de destruir as provas e testemunhas que podem levar ao esclarecimento definitivo sobre a morte de Argaña. Ela surge num momento em que o processo contra os acusados pelo suposto atentado entra em sua fase final e pode colocar em liberdade o general Lino Oviedo, principal acusado e dono de enorme popularidade no Paraguai. Se depender do que afirma o chefe do Ministério Público, o tiro poderá sair pela culatra. ?É visível que estão tentando mais uma vez manipular a Justiça a fim de obter vantagens políticas, mas creio que isso não poderá prosperar. Hoje o Ministério Público está com uma postura muito mais séria do que em 1999 e a história poderá ser bem diferente?, conclui o advogado Diego Bertolucci, um dos mais respeitados do Paraguai. 256 páginas formam a investigação secreta