Era para ser uma festa econômica, às vésperas das eleições presidenciais. Porém, um ano depois de o Banco Central começar a redução sistemática da taxa básica, a Selic, os bancos ainda continuam cobrando juros extremamente elevados nos empréstimos às pessoas e empresas. Pior, o crescimento do PIB no segundo trimestre foi de apenas 0,5% em relação ao primeiro e a projeção para o ano, de 4%, está sendo revista para baixo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao anunciar medidas brandas para induzir os bancos a praticarem juros menores, na terça-feira 5, mostrou que o governo não acredita em milagres de última hora. Até prova em contrário, prevaleceu o gradualismo nos ajustes da economia defendido pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A festa dos juros baixos para os empresários e consumidores, se houver, deverá acontecer no ano que vem: a maior parte do pacote de Mantega só vale a partir de 2007. Por enquanto, foram anunciadas seis medidas para estimular a concorrência entre os bancos, a disputa pelos melhores clientes e, quem sabe, a queda das taxas dos financiamentos. A estratégia de Mantega é forçar indiretamente a redução das margens de ganho – o chamado spread – das instituições financeiras, sem ceder às pressões dos banqueiros para a diminuição dos depósitos compulsórios junto ao BC, que têm baixa remuneração e são apontados como uma das causas dos juros altos. “Constatamos uma certa resistência dos bancos privados em reduzir suas margens de lucro”, afirmou Mantega a ISTOÉ. “Tomamos medidas que vão elevar o volume de crédito disponível, acelerar o desenvolvimento e manter os juros em custo descendente.” Entre as mudanças anunciadas está a portabilidade dos salários, dos empréstimos e da ficha cadastral dos clientes para outras instituições financeiras. Com a redução da contribuição dos bancos ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC), eles devem economizar R$ 850 milhões e, em tese, poderiam repassar esse ganho aos consumidores. É pouco, mas o pacote não deve ficar por aí. O governo promete anunciar, nesta semana, outras medidas de incentivo à redução dos juros dos financiamentos imobiliários. Esperadas há algumas semanas, elas têm sido adiadas diante da dificuldade de negociação com os bancos. Dentre as propostas em estudo está a adoção optativa da TR como indexador dos financiamentos imobiliários. Hoje, o índice é obrigatório. Com a liberalidade, os bancos poderão trabalhar com taxas fixas e, quiçá, praticar juros inferiores a 12% ao ano. Outra providência será o desconto automático em folha das prestações da casa própria, que reduz o risco das operações e pode levar à queda das taxas, como já aconteceu no caso do crédito pessoal. Outra novidade será a criação de uma espécie de portal de financiamento. Nele, todos os interessados em conseguir empréstimo habitacional poderão cadastrar seus dados pessoais. Caberá então às instituições financeiras escolher os clientes mais interessantes dessa lista e, se o plano funcionar, cobrar menos deles. Tudo isso ocorre a poucos dias de Guido Mantega completar seis meses no cargo. Poucos se lembram, mas o ministro assumiu em confronto aberto com Meirelles por causa dos juros. Hoje, os dois estão se entendendo como nunca. O ex-crítico da política monetária do BC até elogiou seu colega, que também tem status de ministro e responde diretamente ao presidente Lula. “Podemos dar os parabéns aqui ao doutor Meirelles”, disse Mantega, ao comentar a queda da Selic por 12 meses consecutivos. Surpreso com o afago, o presidente do BC reagiu de forma bem diplomática: “Isso não é mérito meu, é mérito do País.” Resta saber se essa cordialidade vai perdurar num eventual segundo mandato de Lula. Ambos têm pretensões políticas fortes. De quem será o mérito se os juros caírem em 2007 e o Brasil voltar a crescer a taxas mais robustas?