12/02/2010 - 12:00
Adriana Caruso e Joanna Trabulsi
Idade: 23 e 28 anos
Perfil: Joanna cuida do marketing da marca de vestidos de festa Jo/Dri, cuja loja fica nos Jardins, em SP. Sua sócia, Adriana,
é responsável pela criação e produção das peças.
Família: Joanna é filha de fazendeiros e sua sócia, Adriana, tem mãe empresária do ramo de automação bancária e pai arquiteto.
O destino dos herdeiros de famílias tradicionais ou de grandes empresários no Brasil, até pouco tempo atrás, se resumia a duas realidades: eles assumiam os negócios da família, muitas vezes sem vocação ou talento, ou seguiam vivendo de renda, flanando em seus iates nos balneários europeus. Com a profissionalização de empresas, nem sempre há cargos para filhos sem qualificação. E, cada vez mais, pega mal só badalar. Por isso, o mantra atual é trabalhar duro e ganhar dinheiro com o que entendem e gostam. Entre as moças bem-nascidas, jovens, cultas e viajadas, moda é quase unanimidade como área de atuação escolhida. Para ter sucesso, promovem o casamento do know-how que adquiriram com a poupança da família. “São garotas que cresceram consumindo nas melhores lojas do mundo, que sabem o valor de uma joia, que têm senso estético apurado”, diz José Luis de Andrade, professor da Faculdade de Moda do Senac. “Elas também trazem na bagagem tudo aquilo que aprenderam com o sucesso e a rotina dos pais.”
Fabiana Justus
Idade: 23 anos
Perfil: é presidente da loja Pop Up Store, nos Jardins, em São Paulo
Família: filha do publicitário, empresário e apresentador de tevê Roberto Justus
Filha de Betsy e Olavo Monteiro de Carvalho, Julia, 24 anos, começou a desenhar joias em dezembro de 2008 e abriu sua loja nove meses depois. Ela não teve a opção de trabalhar com a família, uma das mais tradicionais do Rio de Janeiro. “A profissionalização das empresas familiares é uma tendência no Brasil”, diz ela. “Nem se eu quisesse teria um cargo lá simplesmente por ser herdeira.” Criativa, desde pequena Julia conseguia transformar seus devaneios em realidade. Desenhava o sapato dos sonhos e levava para um sapateiro fabricá – lo. Esboçava vestidos para costureiros materializá-los. Formada em publicidade, hoje tem ateliê e uma loja no Leblon e é feliz desenhando suas joias de pegada pop. Mas engana-se quem pensa que Julia dá de ombros para os negócios da família. “Meu pai sempre fez questão que eu e minhas irmãs soubéssemos de tudo que se passa nas empresas do grupo”, diz ela. “E nós sabemos.” Outros sobrenomes conhecidos povoam o mundo fashion, como Setubal (Luiza Setubal, filha de Olavo Setubal Jr., do Banco Itaú, é dona da multimarca de acessórios Lool – The Non Stop Store, loja itinerante inaugurada no ano passado) e Klein, de Natalie Klein, filha de Michel Klein, proprietário da Casas Bahia. Precursora desta tendência, Natalie abriu a NK Store 13 anos atrás com o apoio do pai e hoje é uma respeitada empresária. Esta é uma das vantagens das herdeiras para alçar voo solo: o aporte financeiro da família.
Renata e Lilly Sarti
Idade: 25 e 23 anos
Perfil: Renata é administradora da marca de roupas e acessórios Lilly Sarti. A irmã mais nova, Lilly, é quem assina as peças.
A loja fica nos Jardins, em São Paulo
Família: os negócios da família Sarti vão de frigoríficos a mineradoras
Filha de fazendeiros, a publicitária Joanna Trabulsi investiu o que herdou após a morte do pai na primeira coleção de vestidos de festa Jo/Dri. Sua sócia, a estilista Adriana Caruso, filha de uma empresária do ramo de automação bancária com um arquiteto, também deu a sua parte. Para isso, vendeu o Porsche que ganhou da mãe quando se formou em moda no Studio Berçot, na França. Adriana morou dos 17 aos 23 anos em Paris e voltou ao Brasil depois de conhecer Joanna. Juntas, decidiram investir em uma marca de roupas. Com peças bem cortadas, de tecido de primeira, como renda francesa, a grife lançada em março do ano passado é comercializada em 24 pontos de venda no Brasil e possui endereço nos Jardins, em São Paulo. Um sucesso que, segundo as sócias, se tornou rentável logo na segunda coleção. Para Fabiana Justus, a filha de 23 anos do publicitário, empresário e apresentador de tevê Roberto Justus, a tarefa de arrancar dinheiro do pai não foi fácil. Como uma aprendiz, teve de provar conhecimento e mostrar firmeza. Formada em comunicação e com pós- graduação em negócios da moda e varejo, além de um curso no Fashion Institute of Tecnology de Nova York, Fabiana montou um plano de negócios extremamente detalhado, marcou reunião com o pai e precisou mostrar pulso firme ao ser sabatinada por Justus. “Ele me ofereceu duas opções”, conta. “Ser meu sócio ou me emprestar o dinheiro, com juros mais baixos e prazo maior para quitar do que os bancos”, conta. Fabiana escolheu a segunda alternativa.
Julia Monteiro de Carvalho
Idade: 24 anos
Perfil: é designer de joias e dona de uma loja no Leblon, no Rio de Janeiro
Família: filha de Betsy e Olavo Monteiro de Carvalho, é uma das herdeiras do grupo Monteiro Aranha, que trouxe a indústria automobilística
para o Brasil e atua nos setores industriais e de serviços
Ao lado de outras três sócias minoritárias, abriu em novembro passado a Pop Up Store, loja de roupas e acessórios situada nos Jardins, em São Paulo. Com a proposta de oferecer roupas e acessórios exclusivos a cada semana, as sócias viajam para Nova York para observar o que é usado nas ruas. Na volta, criam suas próprias versões. Outras vantagens das bem-nascidas são o círculo de amizades e o sobrenome que abre portas. “Boa parte delas começa a produzir roupas e acessórios para as amigas, que indicam para outras conhecidas”, diz Andrade, do Senac. “Está formado um rol fiel de consumidoras, que têm o mesmo estilo, vão às mesmas festas, viajam para os mesmos lugares e possuem contas bancárias polpudas.” Lilly Sarti, 23 anos, estilista da grife que leva seu nome, começou humilde. “Agora estamos na oitava coleção e vendemos em 60 multimarcas brasileiras”, diz ela, que tem como sócia a irmã Renata, 25 anos. Não foi fácil convencer a mãe, Sofia Sarti, com negócios que vão de frigoríficos a mineradoras, de que a vocação das duas era para valer. “Ela queria que assumíssemos os negócios da família e só nos apoiou quando viu que falávamos sério”, diz Renata. Professora de pós-graduação de administração da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Claudia Serrano diz que o melhor para o pai é ouvir o filho. “Em mais de 25 anos trabalhando na contratação de profissionais, os melhores que entrevistei eram aqueles que eram apaixonados pelo que faziam”, diz.
“E isso só é possível quando se tem a chance de escolher a carreira.” As herdeiras também parecem ter nascido sabendo usar o marketing a seu favor. Julia teve a oportunidade de conhecer Madonna na casa do pai em novembro passado. Durante o almoço, não perdeu a chance de promover seu trabalho e entregou uma pulseira tendo como pingente uma caveirinha de ouro de presente para Lola, filha da cantora. Madonna agradeceu e elogiou o anel, também em forma de caveira em ouro, que Julia desenhou e usava no dia. Claro, levou o mimo. Figura constante de revistas de celebridade, Joanna sabe transformar a fama em sucesso profissional. Ela costuma circular pelos eventos badalados com as roupas de sua grife. “Sempre que fazem um clique, me perguntam a marca da minha roupa”, diz ela. “Faço propaganda mesmo.” Como todas elas sabem, é a alma do negócio.