13/09/2006 - 10:00
Uma paciente em trabalho de parto deixa os médicos preocupados. O obstetra percebe que a criança está na posição errada. Enquanto faz manobras para tentar colocá-la na posição correta, escuta seus batimentos cardíacos para saber se está tudo bem. A demora em tomar a decisão correta pode colocar em risco a vida da mãe e do filho. Mas o procedimento adotado deu certo e, minutos depois, o bebê nasce. Em outra sala uma adolescente com uma crise de asma é atendida. O médico faz escuta pulmonar e, com um aparelho especial, mede a oxigenação do sangue. Depois coloca uma máscara de oxigênio na paciente. Em alguns minutos, ela já respira melhor. Essas situações poderiam ser reais, mas se trata de simulações. Os personagens são robôs e manequins programados para agir e reagir como humanos diante de qualquer procedimento clínico. Alguns têm batimentos cardíacos, sangram, transpiram e até gemem. Participam dessas simulações estudantes de medicina, enfermeiros e médicos em busca de aperfeiçoamento. As cenas acontecem em centros de treinamento como o criado recentemente pela Universidade de São Paulo (USP) para treinar seus alunos e no Centro de Treinamento Berkeley, no Rio de Janeiro, que oferece cursos para profissionais de saúde. Na medicina, esta estratégia de ensino tem se tornado cada vez mais comum. Em São Paulo, além da USP, a Universidade Federal também dispõe desse ambiente virtual. ?Esse trabalho não substitui o contato com o paciente. Mas é fundamental porque prepara o estudante para o primeiro contato com o doente?, afirma Augusto Scalabrini, coordenador do Centro de Habilidades da USP. Segundo o médico, ao praticar procedimentos em modelos com reações muito parecidas com as dos seres humanos, o futuro profissional ficará menos ansioso e mais seguro quando se deparar com situações reais. De certa forma, o método também é um benefício para pacientes internados nos hospitais que servem de escola para as faculdades. Nas aulas práticas, vários são submetidos a procedimentos dos quais os jovens estudantes também participam, o que pode gerar ainda mais desconforto pela falta de habilidade dos novatos. No centro da USP, os futuros doutores aprendem desde coisas simples, como aplicar uma injeção intravenosa ou coletar sangue ? nesses casos, se o estudante não fizer de forma correta, um sangue artificial escorre, indicando o erro ?, até exames ginecológicos e urológicos. Não ficam de fora situações de emergência como o atendimento a vítimas de traumas ou com parada cardiorrespiratória. Se um desses pacientes virtuais apresenta uma parada cardíaca e o estudante não adota o procedimento adequado para reanimá-lo ou se administra uma droga errada, a conseqüência pode ser a morte. No Centro de Treinamento carioca, alguns robôs até respondem às perguntas dos médicos. O local dispõe ainda de um banco de dados farmacológicos que permite que o doente de mentira seja medicado. ?Simulamos uma situação comum, como administrar um remédio sem saber se o paciente é alérgico ou tem alguma doença que o impeça de tomar a substância?, explica Bernardo Schubsky, coordenador do centro. Se algo der errado, a reação é imediata. O robô-paciente sofre choque anafilático e pode até morrer. É uma lição e tanto para quem está começando na medicina. O uso de robôs na medicina está se tornando comum. O método deixa o profissional menos ansioso para enfrentar situações de verdade