13/09/2006 - 10:00
O movimento começa a se tornar rotineiro a partir dos 40 anos. Para ler o jornal, a receita do bolo ou a bula do remédio, é preciso afastar o texto dos olhos. Só assim as letras fazem algum sentido. A presbiopia, ou a famosa vista cansada, é um daqueles fenômenos inevitáveis. Passadas as primeiras quatro décadas de vida, cedo ou tarde ela aparecerá. Mas os que fogem dos óculos para corrigir o problema podem recorrer a duas novas cirurgias. A primeira é chamada Preslasik. Rápida, indolor e de fácil recuperação, é feita com a utilização de um laser especial que corrige deformações no olho responsáveis pela dificuldade de enxergar de perto. A segunda é uma adaptação da operação clássica de catarata combinada à colocação de uma lente especial. A Preslasik vem sendo feita no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. O alvo das correções é a córnea, estrutura transparente localizada sobre a superfície do olho. Ela protege a parte frontal do olho e também contribui para a concentração da luz sobre a retina, área onde estão os nervos que detectam a luz e os vasos sangüíneos responsáveis por sua irrigação. A cirurgia começa com um exame minucioso para identificar na córnea as deformações, ou aberrações, como são chamadas na linguagem médica, que podem estar interferindo na qualidade da visão. Em seguida, as informações coletadas nessa investigação são transportadas para um programa de computador que projeta o tratamento de forma individualizada. É a partir dessas coordenadas que o cirurgião pode intervir direta e precisamente no local correto. ?O laser atua na superfície da córnea. Na área central, corrige a visão para perto, e na periférica, para longe?, explica o oftalmologista Cláudio Lottenberg, presidente do hospital. O procedimento está indicado para os casos de presbiopia associados à hipermetropia, dificuldade de enxergar de perto. A estimativa é de que em 90% dos casos o uso de óculos se torna dispensável após a operação. Quem já recorreu a essa técnica aprovou o resultado. É o caso do consultor tributário Jarbas de Araújo Oliveira, 47 anos, de São Paulo. Há oito anos, ele começou a usar óculos para corrigir uma hipermetropia de 2,5 graus. A opção foi feita devido ao seu receio de se submeter a uma cirurgia nos olhos. Desta vez, no entanto, pressionado também pela ameaça da vista cansada, ele resolveu seguir a recomendação do médico. Agora, garante que não houve nenhuma má lembrança do procedimento. ?Foi tudo muito rápido e sem dor. Tinha dificuldade até para ler texto na tela do computador. Hoje passei a ler até bula de remédio. Sem óculos, claro?, conta. A presbiopia é resultado do enfraquecimento progressivo sofrido ao longo dos anos pela musculatura que regula o funcionamento do cristalino, a lente do olho. Dependendo da distância do objeto, esses músculos se contraem ou relaxam, o que implica uma mudança da forma do cristalino. O problema é que o enfraquecimento muscular obviamente repercute no cristalino, e ele aos poucos vai perdendo sua capacidade de focalizar os objetos de perto. Hoje, calcula-se que cerca de 40 milhões de brasileiros padeçam do problema. A outra novidade no tratamento da presbiopia é a realização, ainda em caráter experimental, da mesma cirurgia que corrige a catarata, doença que deixa o cristalino opaco, um fenômeno que também ocorre com o avanço da idade. No procedimento, troca-se essa estrutura do olho por uma lente intra-ocular. Os médicos já sabiam que essa substituição do cristalino pode resolver os dois problemas ? a catarata e a vista cansada ?, mas só agora começam a oferecer o recurso. E isso, segundo os especialistas, obedece a uma lógica. ?O aparecimento da presbiopia é considerado um indício da catarata e sinaliza que, no futuro, haverá necessidade de fazer a operação corretiva?, explica o oftalmologista Carlos Gabriel Figueiredo, de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. O médico é ex-presidente da Sociedade Brasileira de Catarata. De acordo com ele, a operação é usada preferencialmente em indivíduos com presbiopia que precisam de boa acuidade visual. Entre eles estão profissionais como médicos, pilotos e motoristas. Para repor o cristalino, os médicos recorrem a lentes intraoculares cada vez mais sofisticadas. Uma delas, a AcrySof Natural, é a primeira a sair no mercado com o atrativo de proteger contra a fração azul da luz solar. Embora não existam estudos conclusivos, pesquisas recentes sugerem que essa radiação também pode lesionar as células da retina. Caso a suspeita sobre a luz azul se comprove, o uso desse tipo de lentes será mais uma proteção, especialmente para pacientes mais jovens que vivem em locais onde a exposição solar é mais intensa.