O incidente entre o jogador Ednaldo Batista Libânio, o Grafite, do São Paulo, e Leandro Desábato, do Quilmes, da Argentina, gerou uma tremenda polêmica. Como até os macacos do zoológico de Palermo, em Buenos Aires, sabem, o jogador argentino, depois de uma jogada mais carregada de adrenalina, acabou xingando Grafite, entre outros impropérios, de “negrito de mierda”. O fato não foi surpreendente porque já havia acontecido no primeiro jogo entre os dois times em Quilmes, onde brasileiros foram chamados de macacos, tanto que resultou em um pedido de desculpas formal por parte do time argentino. Também não causou espanto porque tem se tornado rotina nos campos de futebol ditos mais civilizados da Europa. O genial Eto’o, o camaronês do Barcelona companheiro de Ronaldinho Gaúcho, já foi alvo de bananas atiradas pela torcida adversária. Os nossos Ronaldo Fenômeno e Roberto Carlos também sofrem com o racismo explícito das torcidas européias. Portanto, tudo isso é muito revoltante, mas nada disso é grande novidade.

O que aconteceu de inédito no estádio do Morumbi, onde o São Paulo derrotou o Quilmes por 3 gols a 1 na quarta-feira 13 e assumiu a liderança de seu grupo na Libertadores, foi a consequência quase imediata do ato racista do jogador argentino: terminada a partida, ele foi preso e dormiu duas noites na cadeia. E isso causou a polêmica. O lado bom é que o exemplo foi dado com veemência e publicidade mundial, o que pode de alguma maneira ajudar a colocar um pouco de ordem no que estava se tornando um caos de intolerância, com a exibição até de bandeiras nazistas em estádios. O lado ruim é que o remédio foi excessivo. O ato da prisão e manutenção do jogador por um dia seria o suficiente. E exemplar. Já o excesso, como o desnecessário uso de algemas, pode acirrar relações normalmente delicadas entre países de fronteira comum e aumentar a intensidade das mútuas gracinhas entre argentinos e brasileiros. E o próximo time brasileiro que for jogar por lá corre o risco de ser soterrado por bananas atiradas por argentinos enfurecidos.