Para quem dedicou a vida inteira a uma causa – o tratamento da diabete –, não chega a ser surpreendente a atitude do carioca Rogério Francisco Corrêa de Oliveira, 72 anos, diabético desde os três, endocrinologista especializado na doença e autor de seis livros sobre o tema. Ele está vendendo boa parte das obras de arte que comprou ao longo de décadas para bancar a primeira parte da pesquisa “Diabetes mellitus e célula-tronco – Bioengenharia de células produtoras de insulina”, em parceria com o cientista francês Radovan Borojevic, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atrás do nome comprido e bonito há um objetivo simples: a cura da diabete, doença caracterizada pela falta ou dificuldade de absorção de insulina (hormônio que abre a porta das células para a entrada da glicose). O acervo de Oliveira inclui quadros de Di Cavalcanti, Manabu Mabe, Tarsila do Amaral, Pancetti, Caribé, Lygia Clark, Iberê Camargo, Castagneto, Manoel Santiago, Djanira e Ismael Nery. “Fico triste de me despedir deles, mas, quando penso que é por um ideal que almejo, fico alegre”, diz o médico. Alguns quadros, como a obra No berço, de Davi, pintor da sociedade francesa da época de Napoleão, serão leiloados por Valdir Teixeira entre a segunda-feira 18 e a quarta-feira 20. Ao todo, ele pretende vender 15 obras.

Para gerir o dinheiro arrecadado, o médico criou o Instituto Saúde Conquista Diária. “Quem comprar um quadro vai receber recibo de doador e poderá abater no Imposto de Renda”, ressalta. Paralelamente, Oliveira tem apresentado seu projeto a empresários, na esperança de conseguir patrocínio para o trabalho que consumirá, só na primeira fase, R$ 400 mil. “É pouco. E é esse valor que pretendo alcançar com a venda das obras”, revela. A primeira etapa da pesquisa deve durar seis meses. Serão coletadas células-tronco de cordões umbilicais para ser manuseadas in vitro em laboratórios da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O objetivo é transformá-las em células com características iguais às das que compõem as ilhotas de Langerhans (produtoras de insulina). Se der certo, os cientistas partirão para os testes clínicos. Mas pretendem usar células-tronco retiradas da medula óssea do próprio paciente.

Esforço – Pesquisas com células-tronco visando à cura da diabete vêm sendo realizadas, mas ainda são poucos os casos de sucesso total. Oliveira cita alguns estudos avançados e sérios sobre o tema, que estão sendo realizados em Cingapura, na Alemanha e também em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Oliveira é um respeitado profissional, livre-docente e mestre em medicina, professor de pós-graduação em endocrinologia, aposentado como chefe do serviço de endocrinologia do Hospital da Lagoa e autor do best seller Diabete dia-a-dia. Diabético há 69 anos, ele é plenamente adaptado à rotina de, pelo menos, seis picadas de agulha por dia – para tomar insulina e fazer testes de glicose – e não busca a cura para si próprio. “Se acordasse amanhã sem diabete, não saberia o que fazer da minha vida. Essa doença me ensinou a vencer obstáculos. Mas sei que muita gente sofre demais por causa dela e quero ajudar a buscar a sua cura”, afirma.

Saldo – Ao todo, ele pretende vender 15 quadros de sua propriedade. Espera arrecadar os R$ 400 mil necessários para custear a primeira etapa dos estudos