O empresário Roberto Justus conhece os dois lados da fama. Virou figurinha carimbada em revistas de fofoca por conta dos namoros com duas estrelas do show biz: Adriane Galisteu e Eliana. Agora vive dias de brilho próprio no mundo das celebridades. Afinal, ao estrear na tevê na pele de apresentador de reality show, Justus teve um desempenho que poderia causar inveja a qualquer bela que batalha pelos índices do Ibope. “Fui reconhecido por um trabalho que fiz no ramo delas (Adriane e Eliana) e fazendo uma audiência até superior à que elas tinham”, afirma, com ar vitorioso.

Como âncora de O aprendiz – versão do americano The apprentice, comandado
pelo bilionário Donald Trump –, conseguiu elevar a audiência da Record de 6 para
13 pontos no horário nobre. O último episódio atingiu pico de 16 pontos. A ex
Adriane, no seu extinto É show, contabilizava 4 pontos nos últimos meses em que esteve no ar. Em razão desse sucesso, Justus deixou de ser lembrado pelo grande público apenas como “o colecionador de loiras”. E ainda passou a imagem do poderoso chefão que é. Presidente do grupo Newcomm, um dos maiores conglomerados de comunicação e marketing do País, ele arrumou para o campeão do reality show (a paulistana Viviane Brafmann) um emprego bem remunerado num dos braços da companhia.

Aos 49 anos, o empresário está em ótima forma e é considerado metrossexual devido aos cuidados com a bela estampa. Reconhece que é vaidoso. E não é de hoje. Justus vai ao mesmo cabeleireiro há 25 anos. O cabelo, aliás, ele garante
que não é tratado à base de escova para estar sempre impecável, faça chuva ou faça sol. “Sou descendente de húngaros, me acho um homem bonito e estou satisfeito com a minha aparência”, confessa. Como diz ao longo desta entrevista, a embalagem é importantíssima.

Em maio, o publicitário estará de volta à telinha para a nova temporada de O aprendiz. A segunda edição já conta com 19 mil candidatos inscritos, uma ferveção. Ainda mais neste momento, quando acaba de estrear o quinto Big Brother Brasil (Globo), atração que, em suas palavras, não passa algo de conteúdo para o telespectador. Enquanto a competição não retorna à grade da Record, o neo-apresentador curte férias em Aspen (estação de esqui dos Estados Unidos) para “fugir um pouco da badalação”. Típico de gente famosa.

ISTOÉ – Qual a diferença de O aprendiz para os demais reality shows?
Justus

Não quero desmerecer nenhum deles porque cada um tem seu charme. No Big Brother você tem a oportunidade de ver gente comum tentando conviver com desconhecidos em uma casa. Mostra relações humanas, mas não passa algo de conteúdo para o telespectador. No meu programa, você tem a chance de ver uma entrevista de emprego de alto nível e os jovens aprendem alguma coisa. Eu não vejo isso nos outros.

ISTOÉ – Ele duplicou a audiência da Record. O que chamou a atenção do público?
Justus

O programa teve informação, entretenimento e drama. Cada episódio foi concluído de uma forma muito interessante. Tivemos uma edição ágil. O telespectador não tinha tempo de zapear. O segredo de fazer uma edição rápida não é virar uma MTV, mas produzir uma coisa com sentido para que o telespectador não perca o fio da meada. No formato americano sentia que muitas vezes os blocos se arrastavam. Nós evitamos isso. A única parte maior era a da sala de reunião, com a demissão. Mas aquele era o momento mais esperado, em que havia o drama. Faltava um programa assim na televisão.

ISTOÉ – A principal crítica aos reality shows é a exploração das fraquezas humanas. Você não acha que uma pessoa demitida em rede nacional é exposta de maneira negativa?
Justus

Expõe as fraquezas, mas dá oportunidade de mostrar o lado bom também. Os participantes mostraram talento durante o programa inteiro. Tive que decidir por um deles. Todos tinham uma base boa e cultura empresarial. Ninguém se expôs ao ridículo ou foi humilhado. Chamei a atenção de alguns, mas foi coisa pequena. Nada que não aconteceria no ambiente de uma empresa.

ISTOÉ – O que te faz demitir um funcionário?
Justus

Não admito gente mau-caráter. O cara pode ser fraco em algum aspecto, ser inexperiente, mas não suporto gente sem integridade e que passa rasteiras. Só que também não gosto de trabalhar com gente ingênua. Outro dia vi um quadro que mostrava vários peixinhos juntos formando um tubarão e abaixo estava escrito: “Se você quer nadar com os tubarões seja um deles”. O tubarão é um animal que só ataca para se alimentar. Você tem de ser muito fera porque é difícil sobreviver em um meio tão competitivo. O que não pode é ser um predador do mal.

ISTOÉ – Quem é bem relacionado tem mais chances de se dar bem na carreira?
Justus

Só competência não basta. Você tem de saber tirar dos outros o que eles têm de melhor e saber trilhar seu caminho sem prejudicar ninguém. São segredos que eu aprendi nesses anos. Saber transitar dentro de sua empresa, saber comandar, saber delegar funções: tudo isso é relacionamento humano. Comunicação é um dos maiores problemas dentro das empresas neste início de século. O que forma a imagem de uma empresa é o modo como ela se comunica, desde o momento que a telefonista lida com o público. Pontualidade também é muito importante. Sou muito pontual, detesto atrasos.

ISTOÉ – O que é necessário para crescer dentro da empresa?
Justus

A primeira coisa é uma boa formação. O cara que viajou, investiu em uma pós-graduação ou num MBA vai sair na frente. O estilo pessoal também conta. Valorizo muito quem foca seus objetivos. Pode acontecer muita coisa que obrigue a trocar as metas, mas o importante é estar preparado para qualquer desafio. Se alguém dissesse, por exemplo, que eu iria apresentar um programa que seria um grande sucesso, eu não acreditaria. Estou hoje com o maior grupo de publicidade do Brasil. Eu lá estou preocupado com televisão? E, de repente, surgiu um desafio maravilhoso, que me realizou. É a tal história de aparecerem as oportunidades na vida e como você vai abraçá-las. Você tem que ter uma soma de talento, visão abrangente, determinação e sorte. A sorte traz a oportunidade. Não conheci nenhum grande empresário que não tivesse algum desses ingredientes.

ISTOÉ – Quem é o melhor publicitário no Brasil?
Justus

Tem vários grandes, cada um com uma característica. Eu citaria meu sócio, Silvio Matos, que é brilhante, excelente caráter e pé no chão. O Nizan Guanaes é genial e sabe movimentar os negócios como ninguém. O Fábio Fernandes, da F/Nazca, e o Marcelo Serpa (Almap BBDO). Esses são os quatro homens de criação que eu cito como feras. Tem o Sérgio Amado (Ogilvy) e o Júlio Ribeiro (Talent), que atuam na área de business e são excelentes.

ISTOÉ – Como você analisa os profissionais do governo Lula? Você demitiria alguém da equipe?
Justus

Você acha que eu vou responder isso? Olha, o que eu posso falar
é que me surpreendi com a qualidade das pessoas envolvidas no governo federal. Todos nós, empresários, estamos satisfeitos. O mercado nunca esteve tão estável
e o risco Brasil nunca esteve tão baixo. Na verdade, é um trabalho que vem sendo feito desde o governo Fernando Henrique e que o Lula conseguiu manter e melhorar em alguns aspectos. Quando você tem resultado positivo, não tem por que demitir. Deve ter alguém lá no governo – como tem em qualquer empresa – que não é competente, mas não tenho como saber. Eu, como empresário e brasileiro, estou bem satisfeito.

ISTOÉ – Política e marketing publicitário caminham juntos?
Justus

Já fiz campanha política e nem quero falar sobre isso porque não foi uma experiência boa. Acho que uma campanha política não acaba quando o político é eleito. É muito importante que esse governante tenha um marketing eficiente para poder informar a população daquilo que está acontecendo. Acho um absurdo quando a imprensa reclama que um governador ou um presidente gastou tanto com publicidade. É bobagem. Tem de ter um porcentual do orçamento para publicidade. É muito importante que o governo se comunique direito com a população. Não é para esbanjar dinheiro com isso, mas falar com o povo. Na eleição, o Duda Mendonça fez um trabalho brilhante. “Embalou” o candidato para que o público o entendesse e o aceitasse. O Lula foi um exemplo clássico. Antes tinha aquela imagem de sindicalista e grevista. Mas agora, dentro de ternos bem cortados, dentro dessa visão mais moderna, ganhou respeito e admiração. Não estou dizendo que ele não tem conteúdo, mas o que ele tem foi bem vendido e bem passado para o público em geral, aqui e no Exterior. Embalagem é importantíssimo. Não estou dizendo que só me importo com beleza. Um funcionário deve ter uma boa imagem. Imagine o presidente, que tem de representar o país. Tenho orgulho do meu governante. Não é porque ele se apresenta bem, mas é uma somatória de coisas. O mais importante são as decisões que ele toma. Mas, ao mesmo tempo, quando ele descer de um avião em Washington para representar o País, tem de estar à altura.

ISTOÉ – Por que a Record te escolheu para ser o Trump brasileiro?
Justus

Eu vou falar o que eles, da Record, falam, senão vai parecer que eu sou metido. Sou uma pessoa muito articulada, que fala bem e raciocina rápido. Tenho uma posição de destaque no mercado. Porque não teria sentido ser aprendiz de alguém que não tem sucesso nos negócios. Somado a isso, o público já me conhecia, até por causa das minhas relações com mulheres famosas. Ser conhecido por isso não é nenhum mérito. Mas, querendo ou não, eu já tinha meio caminho andado para o grande público se comparado a qualquer outro empresário. Por último, a boa aparência. Eles não colocariam alguém que ficasse mal no vídeo.

ISTOÉ – Você se acha um homem bonito?
Justus

Sim. Não vou mentir. Tenho certas características como a altura de 1,91 m, olhos azuis, cabelos grisalhos. Sou descendente de húngaros, me acho um homem bonito e estou satisfeito com a minha aparência. E me cuido para mantê-la.

ISTOÉ – Você é vaidoso?
Justus

Sou, mas não sou narcisista. Sou todo certinho, clássico, não sou ousado. Meu cabelo nunca está fora do lugar, sou um cara que gosta de estar arrumadinho. Esse é meu estilo. Mas não vou passar do limite e me achar o máximo, porque aí é o início de as pessoas se perderem. Vou ao mesmo cabeleireiro há 25 anos. Corto meu cabelinho, faço a mão, o pé… Falam que sou metrossexual, mas nem sei o que é isso. As pessoas exageram.

ISTOÉ – Está gostando de ser famoso?
Justus

Tudo tem um lado positivo e negativo. Na
fama também. Quem disser que não fica envaidecido por ser reconhecido é mentiroso. Agora vamos à diferença: antes eu era reconhecido por ter namorado e casado com pessoas famosas. Isso não me envaidece nem um pouco. Às vezes, as pessoas chegavam e me pediam autógrafo e eu dizia: “Eu não fiz nada para merecer ter que dar um autógrafo.” Mas quando você faz algo bem-feito, como fiz em O aprendiz, é reconhecido por isso e as pessoas te agradecem por ter feito um programa de nível na televisão brasileira, aí fico envaidecido. Eu tinha respeito dentro do mercado de publicidade, mas, no mundo das celebridades, era reconhecido por ter namorado duas mulheres famosas. Eu não gostava disso.

ISTOÉ – E agora?
Justus

Agora é bom. Estou sendo reconhecido por um trabalho que fiz, inclusive
no ramo delas (Adriane Galisteu e Eliana) e fazendo uma audiência até superior à que elas tinham. Veja bem: não estou competindo com elas, pois as duas são brilhantes, competentes e têm um brilho fantástico. Mas entrar num ramo desses e conseguir fazer um sucesso desse me deixa muito feliz. Tem a coisa que você perde na vida pessoal. Hoje sou mais assediado. E fofoca e maldade tem de monte. Descobri que existe uma central de boatos das pessoas conhecidas. É igual piada. Você já conheceu alguém que inventou uma piada? Ninguém, mas todo mundo conta uma. Com a boataria é igual. Infelizmente, neste país a inveja é muito grande. Na Europa e nos Estados Unidos, quando você faz sucesso, vira uma referência. Aqui vira inimigo e uma pessoa malquista. Não estou generalizando, mas a grande maioria sente inveja.