Na sua eterna excentricidade e no seu eterno bom humor que muitas vezes incomodava realezas e sangue-azuis de todo o mundo, o príncipe Rainier III costumava dizer que gostaria de estorvar um pouquinho os seus pares quando morresse. Aos 81 anos e em decorrência de doenças cardíacas e renais, Rainier III, que ascendeu ao trono de Mônaco em 1949 e até hoje era o maior símbolo do glamour real europeu, morreu na manhã da quarta-feira 6. E continuou fazendo graça. Deixou a rainha da Inglaterra Elizabeth II de cabelo em pé e deixou amuados o príncipe Charles e a sua noiva, Camilla Parker-Bowles. Explica-se: o casamento de Charles e Camilla estava marcado para a sexta-feira mas foi adiado para o sábado em respeito aos funerais de João Paulo II. Segundo o jornal inglês The Sun esse adiamento jogou Elizabeth II numa enxaqueca das bravas porque ela queria reservar o sábado ao aniversário de três anos do sepultamento da rainha-mãe. Não bastasse isso, as primeiras notícias sobre a morte de Rainier III falavam que o seu enterro seria no sábado. A rainha viu-se então diante de outro eventual adiamento e declarou que o casamento de Charles e Camilla “estava enfeitiçado”. Os noivos ficaram ainda mais sem graça. E essa foi a última peça pregada por Rainier na realeza, já que o seu enterro acabou finalmente sendo confirmado somente para a sexta-feira 15. Ele será sepultado ao lado do corpo da atriz e princesa Grace Kelly que faleceu num acidente de carro em 1982 (casaram-se em 1956) e foi sucedido no trono pelo seu filho Albert (as outras são as princesas Caroline e Stephanie). Trigésimo primeiro membro da família Grimaldi a ser coroado (numa dinastia de 708 anos), Rainier III projetou mundialmente o minúsculo principado parlamentarista de Mônaco através de uma política de modernização: o principado ingressou na ONU e no Conselho Europeu, chegou a cerca de 32 mil habitantes (27 mil não-monegascos) e ostenta uma renda per capita de US$ 27 mil. É um paraíso bancário e fiscal. “Eu me considero o presidente de um conselho de administração de uma empresa. Essa empresa se chama Mônaco”, disse certa vez Rainier Louis Henri Maxence Bertrand Grimaldi.