Lobão está de volta e mais ácido que nunca. A partir do dia 25, estará diariamente na tela do Canal 21, em horário nobre, comandando o programa de entrevistas Saca-rolha, ao lado do jornalista Marcelo Tas e da modelo Mariana Weickert. “Queremos fabricar opiniões”, promete. Além da estréia na televisão, Lobão afia as garras para seu próximo disco, Canções dentro da noite escura. Também edita a revista Outracoisa. Criada em 2003 com a proposta de lançar novas bandas, a publicação atingiu a marca dos 20 mil exemplares e agora vai circular também em Portugal. Nesta entrevista, o neo-apresentador dispara sua metralhadora verbal e não poupa críticas à tropicália, que considera “mofada”.

ISTOÉ – Por que um programa de tevê?
Lobão –
Tenho uma política de invasão. Quero invadir as rádios e a televisão. Ah, não me tocam? Então invado! Eu sou a mídia! No programa divulgarei a Outracoisa, que está indo muito bem. Temos uma geração de artistas novos na revista. Ela é fundamental porque vivemos uma ditadura maior que a ditadura. Cerca de 90% da produção musical não tem acesso às rádios. Não dá mais para ler entrevistas de executivos de gravadoras afirmando que um CD sai por R$ 27 porque os custos promocionais são altos. Então, como a Outracoisa tem 70 páginas, um disco encartado tão ou mais bem-feito que o de uma gravadora e sai por R$ 12,90, sendo que R$ 1 é para o artista? Li uma entrevista do Alexandre Schiavo (presidente da BMG-Sony) dizendo que estamos vivendo uma crise de criatividade na música. Isso é um absurdo. Estamos na melhor fase da música que o Brasil já viveu. O programa faz parte da ação de divulgar esses artistas. É um programa que vai fazer as pessoas pensarem. Queremos fabricar opiniões.

ISTOÉ – O que você acha da televisão brasileira?
Lobão –
Os apresentadores em geral não opinam. Ninguém quer se queimar. Eu me queimo muito. Mas sou normal, eles é que são atrofiados. Olha que coisa louca: estamos no país da fofoca, mas que reclama de quem dá opinião! Dizem que a qualidade é limitada por causa da audiência. Não dá para acreditar nessa consciência infeliz dos marqueteiros de admitir que o mundo é uma merda e que temos que surfar nessa merda. É esse pensamento que paira na televisão: “Vamos surfar com esse povão burro.” Os reality show, por exemplo. São porcarias! Você fica ali vendo nada acontecer e se ocupando com o nada da vida dos outros. Aqueles participantes pensando em fornicar entre si para ganhar um milhão… Meu programa ocupa o mesmo horário ocupado pelo Big Brother Brasil e espero que seu público cativo migre em nossa direção. Quem não quiser, que se dane! Sou um cara popular. Jogo de uma maneira camicase, mas só jogo quando acredito que tem campo.

ISTOÉ – E a música? Como está indo seu disco novo?
Lobão –
Chama-se Canções dentro da noite escura. Esse disco é um processo de cura do meu ódio e da situação fantasmática em que eu me coloco para entrar em contato com amigos que já se foram, como Cazuza, Cássia Eller e Júlio Barroso. Uma das músicas chama-se Seda e foi a Lucinha Araújo quem me deu. Tem outra música que se chama Boa noite Cinderela, que eu escrevi para a Cássia Eller na noite de sua morte. A estética é ambientada no Baixo Leblon, onde a noite é fria e tudo é mais legal. A pior coisa pra quem tem luz própria como eu é a claridade. É uma situação contrária à da tropicália.

ISTOÉ – É uma crítica à tropicália?
Lobão –
Não quero saber dessa intelectualidade mofada. Os tropicalistas se colocam como representantes da música brasileira para o mundo sem nossa autorização. Veja o ano do Brasil na França: os franceses estão com receio de não nos enxergar como somos. Eles exportaram 90% daquela coisa de sempre. Aquele modo folclorizado e exótico de ver o brasileiro que paira desde Montaigne. Temos que parar de ser caricaturas.