A cada hora, sem alarde, os 15 funcionários da recém-criada fábrica Lobini Automóveis Ltda. lavam as mãos. Seguem ordens expressas do proprietário, o bem-sucedido advogado José Orlando Arrochela Lobo, 46 anos, nascido em Moçambique e há 31 radicado no País, colecionador e fanático por carros desde a infância. Com 21 anos, Lobo fez uma lista de intenções para o futuro. Entre sonhos de façanhas sexuais e obras altruístas, próprios da idade, cravou: vou construir um carro. Construiu. Há seis anos iniciou o projeto que, US$ 2 milhões em recursos próprios depois, se transformou no Lobini H1, único modelo de sua recém-criada linha de montagem. Um carro tratado “como uma jóia”, segundo ele. O que explica não só o ritual da lavagem das mãos, mas a assepsia dos 1.320 metros quadrados da fábrica, instalada em Cotia, na região metropolitana de São Paulo. O Lobini – derivado dos nomes Lobo e Birolini, sobrenome do projetista Fábio – é um arrojado esportivo nacional de dois lugares feito de forma artesanal, sob encomenda e vendido a R$ 157 mil. O primeiro modelo será entregue em junho e já há 20 pedidos. É o resgate, ainda mais caprichado, de uma linha de esportivos brasileiros, como o Puma, o Santa Matilde, o Miúra e o Willys Interlagos, que existiram, alguns deles, até a liberação das importações nos anos 90.

Graham Holmes, experiente engenheiro inglês, permaneceu dois anos no Brasil ajudando a desenvolver o carro, que terá na Inglaterra seu primeiro alvo de exportação. Para concluir o projeto foram consumidas 1.500 horas num computador. A aerodinâmica foi aperfeiçoada com três miniaturas expostas a um túnel de vento na USP de São Carlos. Ao todo, foram construídos três protótipos – um deles remontado. A carroceria, de plástico reforçada com fibra de vidro, é feita pela Chamonix, empresa especializada em réplicas do Porsche 550 Spider e do Porsche Speedster 356, clássicos da década de 50. Mas segundo Lobo, os concorrentes diretos do Lobini são os esportivos Lotus Elise 111 S e Opel Speedster. “Não queremos ser revolucionários. Fizemos o arroz com feijão bem temperado. É um carro para quem quer ter prazer de dirigir.” Por exigência do mercado, o Lobini H1 traz alguns confortos, como direção hidráulica, vidros e portas elétricas. “Mas freio com conceito ABS só sobre o meu cadáver”, avisa Lobo, que quer transmitir a seus clientes a sensação de pilotar um bólido. O cliente escolhe a cor que quiser e antes de recebê-lo ganha uma miniatura perfeita.