Quando o mafioso Paul Vitti (Robert De Niro) dos filmes A máfia no divã e A máfia volta ao divã tem repentinos ataques de ansiedade, decide consultar secretamente o psiquiatra Ben Sobel (Billy Cristal). Paul desenvolve uma dependência tão grande do psiquiatra que passa a persegui-lo nos lugares mais impróprios. Hoje, a figura do requisitado psiquiatra Sobel poderia atender por outro nome, personal coach, um novo profissional, de formação diversa, que presta uma espécie de consultoria emocional personalizada. Coach quer dizer em português técnico, treinador. O personal coach apareceu na década de 90, com foco em executivos, mas logo estendeu seu atendimento a qualquer pessoa que tenha dinheiro e problemas não só profissionais, mas afetivos ou familiares. Os coachs brasileiros ou “coaching de vida”, como são chamados, não ultrapassam uma dezena e são o último elo de uma longa linhagem de “personais”.

Primeiro veio o popular personal trainer, depois o personal stylist. Na mesma categoria, surgiram ainda o personal artist – que ensina sobre artes plásticas –, o personal dieter, que palpita na sua alimentação, o personal sex trainer, que diz fazer você transar melhor, e até o personal zen, que o ajuda a meditar. Cada sessão com um coach pode custar R$ 300 reais por hora. “O processo é mais rápido do que o da terapia. Traçamos um objetivo, metas e as sessões duram de três a seis meses”, explica o personal coach californiano Rhandy Distéfano. Além de atuar no Brasil e nos Estados Unidos – ele atende a maioria dos clientes por telefone –, Rhandy ainda ministra cursos que formam coachs aqui no Brasil. As aulas duram cerca de oito dias e custam R$ 3 mil à vista. Afinal, quais os requisitos para ser um coach? “É importante ter formação superior, mas não é necessário que seja em psicologia ou alguma coisa do gênero”, explica Rhandy.

Clientes – E, por falar na boa, velha e insubstituível terapia, a principal diferença entre ela e o coaching é que a primeira busca causas, sintomas e curas. O segundo é mais objetivo e trabalha com metas e prazos. Quem procura os coachs é chamado de cliente, e quem procura a terapia, de paciente. As sessões acontecem nos consultórios, por telefone e até via internet. Os temas podem ser desde tentar parar de fumar até resolver problemas de relacionamento. E eles garantem: o coach não lhe dará respostas, mas apontará o caminho. O empresário Marcelo Kraus, 35 anos, se deixou seduzir. “Li sobre o assunto e percebi que seria uma boa ferramenta para o meu trabalho, especialmente no que diz respeito a questões de liderança”, afirma. Frequentando as sessões da coach Jael Klein há três meses, assegura que os resultados são ótimos.

A engenheira Renata Randi, 36 anos, é outra que experimentou o serviço de Jael numa época em que estava desmotivada. “Já havia feito faculdade, pós-graduação, MBA em uma universidade americana e senti que, apesar disso tudo, estava incompleta. Precisava fazer um balanço na vida profissional e pessoal, e uma pessoa mais neutra ajuda a definir melhor os objetivos”, conta ela, que é adepta da consultoria há um ano. “Às vezes, não analisamos se nossas atitudes nos conduzem ao lugar certo. Com o coach incorporamos novas visões no dia-a-dia”, continua.

No fundo, o personal acaba se tornando um grande amigo, com a diferença que esse amigo não fala apenas o que você quer ou precisa ouvir. É algo como um livro de auto-ajuda aberto, daqueles que dizem: aprenda com os próprios erros. E um pouco mais caro.