Na semana em que se comemorou o Dia Mundial do Câncer – 8 de abril –, a ciência deu uma ótima notícia. Uma vacina criada por pesquisadores espalhados pelo mundo todo mostrou-se eficaz na prevenção do Papilomavirus humano, ou HPV, causador do câncer do colo do útero. O imunizante está na fase final de desenvolvimento, mas os testes realizados até agora, feitos em mulheres de vários países, inclusive o Brasil, revelaram resultados extremamente animadores.
A vacina teve eficácia de 90% em relação à proteção contra a contaminação.

O produto protege contra quatro tipos de HPV (existe uma centena de tipos): o 6 e o 11, causadores de tumores benignos, e o 16 e o 18, responsáveis por 70% dos casos de câncer do colo do útero. A vacina impede a contaminação do corpo pelo microorganismo. Como uma das principais vias de transmissão do HPV é a sexual, deve ser administrada, portanto, antes do início da vida sexual. “Os estudos acompanharam as mulheres por quatro anos e ainda não sabemos se será preciso um reforço após esse período”, explica a bióloga Luisa Lina Villa, do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer (SP) e coordenadora da pesquisa no Brasil. Cientistas da Europa e dos EUA também participam do trabalho, patrocinado pelo laboratório Merck Sharp&Dome. Eles investigam ainda se a vacina também ajudaria mulheres já infectadas. Por enquanto, a pesquisa indica que ela tem eficácia de 100% contra as verrugas e tumores que podem se desenvolver a partir da infecção. Esses resultados estão sendo publicados na última edição da revista científica The Lancet Oncology, uma das mais importantes do mundo. A vacina agora está sendo testada em outras 20 mil mulheres e deverá chegar ao mercado no final do ano que vem.

A descoberta significa um progresso valioso para reduzir os altos índices de contágio e de mortes causadas pelo HPV. No Brasil surgem 20 mil novos casos por ano de tumor do colo do útero e mais de quatro mil mulheres morrem vítimas da doença nesse período. De acordo com a pesquisadora Luisa, a maioria das mulheres se infecta entre os 18 e 25 anos. “Boa parte tem infecções consideradas transitórias. O organismo elimina o vírus sozinho. Apenas uma minoria sofrerá com as lesões do colo do útero precursoras do que poderá ser um câncer. O tempo médio para o surgimento do tumor é de 15 anos após a contaminação”, explica.

Para os especialistas, o diagnóstico precoce ainda é o meio mais eficaz de prevenir o câncer do colo do útero. O exame Papanicolaou, embora não identifique o vírus, serve para indicar o aparecimento de células alteradas quando há lesões no útero. Diagnosticadas a tempo, elas podem ser tratadas com sucesso. “Os exames ginecológicos ajudam na prevenção. Qualquer anormalidade, como verrugas, manchas escuras ou esbranquiçadas e coceira, não deve ser ignorada. Dependendo da extensão, pode ser feito um tratamento local com cauterização a laser, que destrói o local lesionado”, explica a ginecologista Nadir Oyakawa, chefe do setor de laser do Hospital Pérola Byington, de São Paulo. Para ela, a descoberta de uma vacina contra o HPV é uma grande esperança. “Embora exista um arsenal de técnicas terapêuticas eficazes, elas não atingem o principal, que é o combate ao vírus. Tratamos as consequências. A vacina vai atuar onde as terapias convencionais não chegam”, diz a médica. O laboratório Glaxo Smithkline também patrocina uma pesquisa para a criação de uma vacina (contra os tipos 16 e 18). Segundo a empresa, os resultados obtidos até hoje são excelentes.