O cardeal dom Cláudio Hummes foi rotulado de radical pelo jornal britânico The Sunday Times. Mas, embora amigo de petistas e de religiosos da ala esquerda da Igreja como o dominicano Frei Betto, dom Cláudio tem a sua ação contestada à frente da Arquidiocese de São Paulo por padres e teólogos progressistas identificados com o seu antecessor, dom Paulo Evaristo Arns. Dom Cláudio é acusado por militantes de comunidades eclesiais de base de ter promovido um desmonte na Igreja de São Paulo. E tem uma difícil convivência com parte do clero paulistano. ISTOÉ teve acesso a uma carta anônima dirigida “aos irmãos presbíteros da Igreja de São Paulo”, enviada recentemente a todas as paróquias e casas religiosas de São Paulo, na qual um grupo afirma que “o modelo de Igreja que nos foi imposto pelo atual governo arquidiocesano, alicerçado em anacrônicos, mas eficientes métodos de coerção, perseguição e mal disfarçados atos de autoritarismo, minou as relações entre os padres e desses com seus irmãos bispos”. Os autores preservam a identidade sob a alegação de que “não existe mais um clima de confiança entre nós”.

Mas o desmonte não foi obra única e exclusiva de dom Cláudio. Começou, na verdade, em 1989, com a divisão da Arquidiocese de São Paulo, quando a Cúria Romana tirou do controle de dom Paulo as regiões episcopais de São Miguel Paulista, Santo Amaro, Campo Limpo e Osasco – justamente as áreas onde a Igreja tinha maior presença nos movimentos sociais. Elas foram transformadas em dioceses, controladas por bispos conservadores. Nessas regiões e na arquidiocese assumida por dom Cláudio, em 1998, padres engajados em movimentos comunitários, que exerciam com maior fervor atividades políticas, foram removidos de áreas e funções. Muitos pediram transferência para outras dioceses e alguns, desiludidos, chegaram a abandonar a Igreja.

Dom Cláudio teve um passado progressista, mas após as greves do ABC aproximou-se de dom Eugênio Sales, então arcebispo do Rio de Janeiro e um cardeal com poder e influência junto à Cúria Romana. Dom Eugênio ajudou-o a tornar-se cardeal. Por gratidão e reverência ao colega carioca, ele teria hoje suas ações de certa forma tolhidas, avaliam religiosos. A visão de igreja de dom Cláudio é a mesma da Cúria Romana, o que gera reações dos progressistas. “Numa estrutura despótica de poder, malvestida de boas intenções de serviço, como a que aqui se instalou, a busca de primeiros lugares incentiva os piores vícios, como a hipocrisia, o servilismo, o falso moralismo, a competitividade e a delação”, critica a carta. No texto, o cardeal é acusado de nem “ao menos cumprimentar os padres, mostrar qualquer sinal de compaixão em suas necessidades, visitar um presbítero enfermo ou nem sequer enviar condolências quando um deles está enlutado”, além de fazer seus bispos auxiliares parecerem meninos de recado”.