13/04/2005 - 10:00
Cardeais europeus, principalmente italianos, espanhóis e franceses, estão preocupados com a “invasão” de muçulmanos na Europa. Os alemães já adotam ações para tentar frear a chegada desses imigrantes e a Inglaterra segue na mesma linha. O temor é de que o continente passe por uma descristianização. E abra cada vez mais espaço para o crescimento do islamismo. Hoje, milhares de seguidores do Islã vivem na Europa, casam-se e têm filhos europeus que seguem a religião dos pais. Vão contribuir para o esvaziamento dos templos católicos. Atualmente, um terço da juventude belga é muçulmana.
Por essa razão, uma abertura maior da Igreja para a América Latina e as Filipinas (áreas hegemonicamente católicas) é bem-vista pelo episcopado europeu. E,
nessa perspectiva, dom Cláudio Hummes pode tornar-se um importante aliado.
“Se os europeus tiverem de abrir as portas, vão priorizar essas regiões”, observa Domingos Zamagna, professor de filosofia das Faculdades Associadas Ipiranga, ligada à Igreja Católica.
Há uma avaliação entre especialistas de que o próximo papa terá de dar atenção especial à Europa, onde o catolicismo hoje decresce, e à África e à Ásia, onde avança. Se houver uma exigência de que o indicado conheça bem a África, a Ásia e
o islamismo, dom Cláudio, então, perde terreno. “Para mim, é irrelevante que seja europeu, latino-americano ou africano, mas sim que tenha um coração misericordioso capaz de captar as esperanças e angústias daqueles que sofrem
e são deserdados”, declara dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo de Blumenau (SC). Ele vê maior probabilidade de escolha de um europeu, mas acha que dom Cláudio tem chances. “Os cardeais Angelo Roncalli, que veio a ser o papa João XXIII, e Karol Wojtyla também não ocupavam o primeiro lugar entre os papáveis e foram eleitos”, observa.
O escritor e religioso dominicano Frei Betto acredita que dom Cláudio, com 70 anos, tem grandes possibilidades de ser eleito papa, entre outras razões, pela idade. “Acredito que será escolhido um cardeal entre 63 e 73 anos, porque não haveria clima para outro pontificado tão longo como o de João Paulo II. E o fato de este papa ter cortado do conclave os cardeais com mais de 80 anos sinaliza que não convém eleger um idoso”, avalia. Duas outras qualidades ainda podem pesar a favor de dom Cláudio: o fato de ser ortodoxo e ter empatia com o público e a mídia. Sobre as chances de asiáticos e africanos, Frei Betto afirma ser mais fácil detectar aqueles que serão descartados. “Estão fora do páreo os americanos, devido aos casos de pedofilia; os do Leste europeu, considerando a presença do papa polonês; e os franceses, rivais dos italianos, que tudo farão para retomar o papado.”
Se os europeus se unem em torno de seus interesses, os brasileiros também. Dom Cláudio, dom Geraldo Majella, arcebispo de Salvador, e dom José Freire Falcão, arcebispo emérito de Brasília, devem votar unidos. Quem deve destoar entre os brasileiros que participarão do conclave, segundo Frei Betto, é dom Eusébio Scheid, do Rio de Janeiro. “Ele é conservador e inconveniente, vide a crítica deselegante que fez ao presidente Lula”, critica. Os brasileiros, de qualquer forma, defenderão um cardeal que dê continuidade às ações que marcaram o pontificado de João Paulo II, como a abertura ao diálogo inter-religioso e o combate a regimes totalitários.