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O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, empenha-se integralmente na defesa da presidente Dilma Rousseff. Ele usa a estrutura do órgão, com status de ministério, para ingressar com ações protelatórias no Supremo Tribunal Federal (STF). Tenta convencer senadores, na Comissão do impeachment, de que as pedalas fiscais não configuram crime e convoca coletivas em que denuncia o que chama de golpe. Para Cardozo, mais do que a sobrevivência de seu grupo político, a saída de Dilma colocará fim a seus gordos vencimentos. Há meses em que o advogado-geral da União chega a receber cerca de R$ 73,6 mil, o que supera o teto salarial do funcionalismo público. Como ministro, Cardozo ganha R$ 30,9 mil. O restante vem dos chamados jetons. São gratificações recebidas por indicados pelo governo para participar de conselhos de estatais. Na prática, trata-se de uma fórmula encontrada para aumentarem os vencimentos indo a reuniões esporádicas. Em dezembro, Cardozo garantiu um extra de R$ 42.779,70 pelo posto de conselheiro no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O advogado-geral da União não é o único ministro a receber os adicionais no salário. Levantamento feito por ISTOÉ mostra que outros onze colegas de governo engrossaram a renda com cargos em conselhos de estatais entre outubro de 2015 e março deste ano. Dessa forma, eles conseguem driblar o teto do funcionalismo federal, pois, pela lei, servidores públicos não podem receber salários maiores do que o de um ministro do STF. Com a brecha, o recordista é Valdir Simão, do Planejamento. Neste período, o seu contracheque foi ampliado por três fontes. Ganhou R$ 49,8 mil do Sesc, R$ 19,8 mil da Brasilcap e R$ 26,1 mil da Brasilprev. Amealhou um extra de R$ 95,7 mil. É seguido por Nelson Barbosa, da Fazenda. O responsável pela política econômica de Dilma recebeu R$ 69 mil nesses seis meses. Constam na lista nomes menos conhecidos da população. É o caso de Eva Chiavon, da Casa Civil. A ministra escalada para ocupar o posto, enquanto o governo ainda tinha esperança de nomear Lula, colecionou duas fontes extras de renda. Ampliou o holerite em R$ 58,2 mil. O dinheiro veio da PPSA, estatal criada para cuidar do pré-sal, e da Amazul, responsável pelo desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro.

O temor de perder os jetons, a partir do fim do governo, não afeta apenas esse rol de políticos. Há uma série de personagens ligados ao PT entre os beneficiários de cargos nos conselhos das estatais. O presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, ocupa uma cadeira remunerada nas reuniões do BNDES. Roberto Amaral, ex-presidente do PSB, integra o da hidrelétrica de Itaipu. É colega de Alceu Collares, ex-governador do Rio Grande do Sul. Por lá já passou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Lava Jato.

A própria presidente Dilma Rousseff se beneficiou dos jetons lá atrás. Acumulou os ministérios que ocupava no governo do ex-presidente Lula com o posto de conselheira da Petrobras, de 2003 a 2010. Chegou a ocupar a presidência do conselho da estatal. Foi justamente o período da aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O negócio aprovado pelo conselho gerou um prejuízo de mais de US$ 800 milhões para a companhia brasileira. Depoimentos colhidos pela força-tarefa da Operação Lava Jato indicam que houve superfaturamento e pagamento de propina na aquisição. Em sua delação premiada, revelada com exclusividade por ISTOÉ, o senador Delcídio do Amaral afirmou que “Dilma tinha pleno conhecimento de todo o processo de aquisição da refinaria.” A omissão de Dilma com os malfeitos na Petrobras é justamente um dos pontos que embasam o pedido de impeachment em julgamento pelo Senado.