08/04/2016 - 19:00
por Débora Bergamasco
Na delação da Andrade Gutierrez, executivos contaram uma história que ainda não entrou nessas delações homologadas pelo ministro Teori Zavascki, mas que complica ainda mais a campanha de 2014 de Dilma Rousseff. Trata-se de pagamento, por parte da empreiteira, de despesas da campanha à reeleição da petista para novos prestadores de serviço que até agora não apareceram em nenhuma denúncia, nem em outras operações. Os investigadores devem fazer uma apuração independente só do relato deste fato.
Aquecendo a economia
O BNDES continuou fechando operações de contratação de financiamento com empreiteiras encrencadas na Lava Jato cujos diretores já estavam presos. No dia 11 de junho de 2015, o banco acordou com a Camargo Corrêa um empréstimo de US$ 368.938.143 para serviços de saneamento na Venezuela. Com juros a 4,03% ao ano.
Aquecendo 2
Quando a operação de contratação foi fechada, já fazia quase sete meses que parte da cúpula da empreiteira Camargo Corrêa tinha sido presa pela Operação Juízo Final, deflagrada em 14 de novembro de 2014, o que não impediu novas contratações.
Aquecendo 3
O BNDES confirma a contratação, mas informa que o dinheiro ainda não foi liberado. E destacou que esta taxa “não pode ser comparada com as taxas praticadas no Brasil pois as taxas domésticas são em reais e as dos financiamentos à exportação, em dólar”.
Sobre Celso Daniel
Gilmar Mendes, ministro do STF, vai se encontrar com a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP). O magistrado quer discutir questões sobre a segurança da parlamentar. E também quer saber mais detalhes sobre as revelações que ela fez na CPI do BNDES nesta semana.
Nem de graça
Por enquanto, o vice Michel Temer não quer assistência jurídica da Advocacia Geral da União. Primeiro, porque ainda não é parte litigante. Mas, segundo auxiliares, ele também não gostaria de “sobrecarregar” os advogados do órgão que já têm tido tanto trabalho.
Em segredo
O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, pretende manter o sigilo sobre as delações premiadas de executivos da Andrade Gutierrez durante todo o período das investigações. Há muitas pontas soltas na opinião do magistrado. Por isso, mais vazamentos podem atrapalhar novas diligências.
Em boca fechada
O ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, recebeu uma reprimenda dentro de seu próprio partido. Não é para criticar publicamente o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele é “aliado”, não “inimigo”, disseram.
Teste de fidelidade
Sempre que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) fica na dúvida se deve ou não confiar no senador Renan Calheiros (PMDB-AL), um interlocutor muito próximo lhe relembra um episódio. Quando Severino Cavalcanti renunciou à Presidência da Câmara em 2005, Renan, então chefiando o Senado, chamou Temer para um almoço, ocasião em que defendeu com veemência que ele, Temer, era o melhor nome para concorrer ao comando da Câmara. Dias depois, Renan encontrou-se com o então presidente Lula e fez lobby pelo alagoano Aldo Rebelo (PCdoB). Por essas e outras que o vice tem certeza de que Renan joga fechado com o governo.
Teste de fidelidade 2
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não aceita a pecha de “jogar fechado” com o governo. De acordo com auxiliares, ele foi acusado recentemente de trair Michel Temer, mas injustamente. Quando houve a reunião selando o desembarque do PMDB, o acerto teria sido apenas sobre o posicionamento fora da aliança e não um conchavo pró-impeachment.
Toma lá dá cá
Nana Queiroz, editora executiva da revista feminista AzMina
ISTOÉ – Por que falar sobre descontrole emocional da presidente foi considerado pela “AzMina” abordagem misógina?
Nana – Não seria machista se homens e mulheres fossem tratados com o mesmo rigor pela imprensa, mas não são. Quando Dunga saiu em uma revista semanal, sua fúria foi considerada virtude. Em mulheres, qualquer desequilíbrio é sinal de loucura. Há também o histórico de médicos qualificando como histéricas mulheres que não se submetiam a maridos e pais.
ISTOÉ – Como o tema assédio moral deve ser tratado quando for praticado por uma governante mulher?
Nana – Deve-se falar de “assédio moral” e não de “crises histéricas”. Vale sempre a pergunta: “Se fosse um homem na mesma situação, como a sociedade perceberia o caso?”.
Rápidas
* Lideranças do PSB estão chocadas com o “overbooking” de cargos prometidos pelo governo para votos contra o impeachment. Um importante cacique do partido disse já ter ouvido os mesmos postos sendo prometidos para mais de uma pessoa.
* O PRB elegeu em 2012 79 prefeitos. A meta agora é triplicar este número. Até agora, serão oito candidatos em capitais, tendo o deputado Celso Russomanno e Marcello Crivella como os mais competitivos, correndo por São Paulo e Rio, respectivamente.
* A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) visitou na semana passada um asilo no Rio de Janeiro, subiu ao palquinho improvisado, pegou o microfone e cantou, com coreografia, a música “Aquele 1%”, de Wesley Safadão.
* A letra diz: “Tô namorando todo mundo/99% anjo, perfeito/Mas aquele 1% é vagabundo”. Também interpretou “É hoje”, de Ludmilla: “Hoje ninguém dorme em casa/Hoje vai ser meu brinquedo/Hoje por que eu quero te pegar gostoso”.
Foi aplaudida de pé.
Retrato falado
O deputado André Moura, líder do PSC (Partido Social Cristão), afirmou à coluna ter a certeza de que a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff será não só jurídica e política. Mas que terá um fundo de justiça divina. Na semana em que a bancada evangélica da Câmara aderiu em peso pelo afastamento da petista, agora será de bom tom que eles consigam a vitória. Não será fácil explicar uma derrota, afinal o bem sempre vence o mal.
Um parto de voto
A deputada federal Clarissa Garotinho (PR-RJ) está torcendo para que a votação do impeachment aconteça o quanto antes. Ela está grávida de 36 semanas e, se atrasar esta votação, poderá não conseguir liberação médica para viajar ou pode estar na sala de parto. Ela, que é pelo afastamento de Dilma, teme que seus eleitores pensem que ela fugiu da raia.
Perdendo o bonde
Há gente no governo acreditando que Dilma perdeu o timing para entrar para a história gloriosamente. Ela não quis encabeçar a discussão pela convocação de novas eleições. Agora, se isso vier a acontecer, já há vários outros “idealizadores” da ideia, como Marina Silva (Rede).
Colaborou: Mel Bleil Gallo
Fotos: AP Photo/Eraldo Peres; Wilson Dias/Agência Brasil; MAX G PINTO/ISTOÉ; Divulgação