08/04/2016 - 19:00
Na economia, como na medicina, é preciso, antes de qualquer procedimento, estancar a hemorragia. No Brasil, o quadro do paciente é tão grave que o derramamento de sangue está longe de acabar. Pelo menos essa é a avaliação de especialistas que se dispõem a fazer algum prognóstico sobre o horizonte econômico brasileiro. No curto prazo, os indicadores vão continuar se deteriorando. No médio, é muito provável que isso também aconteça. Afinal, quando a tragédia financeira nacional dará trégua? É impossível cravar com certeza, mas a economia deve parar de piorar apenas em 2017. Isso se forem feitos os ajustes fiscais. Retomada mesmo só em 2019. Ou seja, sob o governo Dilma Rousseff, o Brasil não só enfrentou um dos mais severos ciclos recessivos de sua história, como seu legado nocivo será duradouro. “Tempos conturbados ainda estão por vir”, afirma Marcelo Mello, doutor em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.
CABISBAIXO
Barbosa, da Fazenda: fracasso no ajuste fiscal
A saída para acelerar o processo de recuperação passa pela mudança imediata na presidência. “Para fazer a economia voltar a crescer, seria preciso um novo governo, com um novo discurso para o mercado e que aborde a reforma fiscal”, diz Mauro Rochlin, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas. Basta dar uma espiada nos indicadores para entender os estragos provocados por Dilma e sua equipe econômica, agora liderada por Nelson Barbosa, ministro da Fazenda. Em 2015, o PIB registrou a maior queda em 25 anos. Sufocada pela queda de consumo, a indústria parou, e a produção recuou para os mesmos níveis de 12 anos atrás. Resultado: os investimentos diretos no País vão despencar de U$ 75 bilhões em 2015 para US$ 55 bilhões em 2016. Mais dramática ainda é a situação do emprego. Até o final do ano, 8,5 milhões de postos de trabalho com carteira assinada vão desaparecer. A hemorragia, como se vê, está longe de ser contida. “Olhando para os números da economia real, ainda se pode esperar mais notícias ruis nos próximos seis meses.”
A falta de confiança é a enfermidade econômica mais difícil de ser combatida. Quando não acreditam no governo de seu País, os empresários seguram investimentos, a população deixa de consumir, os recursos vindos do exterior mínguam. Nos últimos dias, várias publicações estrangeiras afirmaram que o Brasil chegou ao fundo do poço e que é hora de mudar. Na segunda-feira 4, o jornal americano The New York Times publicou uma ampla reportagem sobre a teia de corrupção no Brasil e afirmou que a Lava Jato desvenda um dos maiores escândalos da história dos países em desenvolvimento. Outros veículos respeitados, como o britânico “The Guardian”, o americano “The Washington Post” e o francês “Le Figaro”, defenderam a renúncia de Dilma como única alternativa para os brasileiros encontrarem algum futuro econômico. Enquanto um desfecho não vem, o atoleiro parece não ter fim.
FOTO: Marcelo Camargo/Agência brasil