Os sinais de recessão estão por todos os lados: com a inflação e o desemprego em alta e a renda e o crédito em baixa, os brasileiros estão comprando menos. Voltada ao mercado doméstico, a Zona Franca de Manaus tem sofrido ainda mais com a desaceleração da economia. Enquanto, no ano passado, a produção industrial como um todo encolheu 8,3%, o recuo no polo amazonense foi de 30%. Ali, a maior parte da produção é de bens de consumo duráveis, como motocicletas e eletroeletrônicos, justamente aqueles que demandam crédito para fechar uma compra. 

1Economia.jpg
Fábrica de motos da Honda

 
 
Acompanhando esse movimento, o número de demissões foi próximo de 20 mil – em agosto, a ocupação nas fábricas caiu para menos de 100 mil vagas de trabalho pela primeira vez desde março de 2010. O faturamento no ano passado ficou em R$ 78,4 bilhões, 10% a menos que em 2014. Num cenário de consumo interno em retração e real desvalorizado, o que torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional, a Zona Franca passa por uma transformação. Criado há quase 50 anos como modelo de substituição à importação, o parque fabril de Manaus agora quer ser conhecido também como um pólo de exportação.
 
“Estamos começando a voltar os olhos para fora do País”, diz Rebecca Garcia, chefe da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Isso porque os empresários sabem que as crises fazem parte dos ciclos da economia e a indústria deve se preparar para as variações na demanda. “Durante muito tempo, o mercado interno foi suficiente para o escoamento de nossa produção”, afirma Rebecca. “Mas o modelo da Zona Franca não pode ficar refém de um único mercado.” Segundo estudo da Suframa, as exportações podem incrementar a produção local em 21%. Para isso, a taxa de câmbio é ferramenta preponderante. 
 
2Economia.jpg

Intercâmbio: O embaixador Laurent Bili levou o interesse de empresários franceses a Manaus

 
“O câmbio faz com que os empresários olhem para as exportações como uma saída para a ocupação da capacidade instalada que está ociosa”, afirma o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. “Demorou praticamente um semestre para que ficasse claro que o dólar a R$ 4 se manteria nesse patamar e as companhias pudessem começar a investir nos embarques.” Hoje as exportações representam cerca de 16% da indústria de transformação. Poderiam ser muito mais. Os planos de exportação têm dado novo fôlego ao modelo da Zona Franca, que oferece benefícios fiscais, com redução e até isenção de impostos. 
 
Há duas semanas, o embaixador da França no Brasil, Laurent Bili, esteve em Manaus para demonstrar o interesse de empresários franceses, sobretudo do setor de cosméticos e perfumaria, em fazer um intercâmbio com o pólo industrial. Empresas como Positivo, Philips e BMW fizeram investimentos recentes. Além dos mercados latinos vizinhos, como Argentina, Colômbia e Peru, os empresários interessados em exportar focam nos Estados Unidos e no México. Por isso, acordos bilaterais são cada vez mais importantes.
 
3Economia.jpg

 

 
 
Créditos das fotos nesta matéria: Alberto Cesar Araujo/Folhapress; Fabio Braga/Folhapress