Ele é um dos nomes mais importantes da ficha técnica do filme – porque talvez sem sua chancela a obra não fosse realizada. Apesar disso, não passa de ilustre desconhecido do grande público. Diler Trindade, carioca, 61 anos, é o maior produtor de cinema em atividade no Brasil e, segundo a respeitada revista americana Variety, está entre os dez produtores mais promissores do mundo. As afirmações baseiam-se em números. Só este ano são 11 filmes sendo feitos ou prontos para serem lançados. Ele contabiliza 24 longas-metragens e mais de 24 milhões de espectadores. Entre suas realizações estão os campeões de bilheteria protagonizados por Xuxa, Padre Marcelo Rossi e Renato Aragão. Seu estilo blockbuster está, entretanto, com os dias contados. A Diler Trindade & Associados, da qual é
acionista majoritário, começa a colocar sua azeitada indústria a serviço, também,
do cinema-arte.

A vez de Galvez – O primeiro é A máquina, de João Falcão, que vai batalhar uma indicação no próximo Festival de Cannes. Nele, o estreante Gustavo Falcão divide com Paulo Autran o mesmo personagem em fases diferentes da vida. No elenco aparecem ainda Mariana Ximenez, Vladimir Brichta, Wagner Moura e Lázaro Ramos. Bisa Bia Bisa Bel, baseado no premiado livro de Ana Maria Machado, contará com Fernanda Montenegro e Andréa Beltrão. Iracema, o romance de José de Alencar, será novamente levado às telas com José Wilker no papel do vilão. Consagrada no teatro, a peça Fica comigo essa noite, de Flávio de Souza, vai para o telão sob a direção de João Falcão. Outra peça famosa, Bonitinha mas ordinária, de Nelson Rodrigues, ganha nova versão cinematográfica com Mel Lisboa no papel principal. No ano que vem será a vez de Galvez, o imperador do Acre, de Márcio Souza.

Mas a maior surpresa, e provavelmente a menos lucrativa, é o projeto Cantores e cantoras de rádio, com filmes-biografias de ídolos como Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Francisco Alves, Dilermano Reis, Dolores Duran e outras estrelas do passado. “Não é para dar dinheiro, é resgate cultural”, afirma. Oriundo da publicidade, Diler afirma que foi treinado para investir pensando no retorno. “Lucro é fundamental”, recita. Quando resolveu trabalhar com cinema e buscou uma franquia – filmes que podem ser desdobrados, como a série Matrix –, farejou o filão Xuxa e, depois, Padre Marcelo Rossi. “Nossa empresa trabalha industrialmente. Ou seja, orçamento mínimo e resultado máximo.” Foi logo tachado pela imprensa de produtor de cinema de baixa qualidade. Surpreendido, montou a tese da mortadela e do caviar para rebater as acusações. “Tem gente que adora um e detesta o outro. Um é caríssimo e o outro é barato. Vai dizer que mortadela não tem qualidade? É lógico que tem. Só que é popular. No Brasil existe uma cultura de desprezo pelo popular. Eu, ao contrário, tenho apreço. Faço cinema mortadela e cinema caviar.”

Diler afirma que “a crítica não faz a menor diferença” na trajetória de seus filmes. Mas confessa que fica magoado. “Vejo produtos internacionais muito menos qualificados sendo incensados pela crítica, que é cáustica com o produto nacional de mesmo padrão”, alega. De modo geral, o produtor tem apoio do metier. Luiz Carlos Barreto, produtor do filme de maior bilheteria no Brasil, Dona Flor e seus dois maridos, assistido por dez milhões de espectadores, rende homenagens. “Precisa aparecer mais ‘dilers’ no mercado brasileiro” diz Barretão. “Nós todos somos artesanais enquanto ele é um produtor industrial, que dá sequência aos produtos e mantém a estrutura funcionando”. Paulo Sérgio Almeida, diretor da Revista Filme B, especialista em análise de números do mercado, ressalta que Diler diversifica, faz os filmes de acordo com o mercado existente e não com o mercado que deveria existir. Para a produtora Mariza Leão, que tem no currículo títulos como Lamarca e Guerra de Canudos, Diler “incrementa a máquina e tem uma capacidade de produção cinematográfica muito fecunda.”

Naturalmente, Diler Trindade também comete seus fiascos, caso do filme Show de verão, exibido ano passado, encabeçado por Angélica e Luciano Huck, que registrou menos de 200 mil espectadores. “Eu imaginava levar o público adolescente para o cinema, mas ele não apareceu. E houve um erro brutal de censura, que o qualificou para 14 anos, impedindo o acesso da criança”, justifica. Agora Diler investe no resgate de “duas vocações” do cinema brasileiro: o terror, em parceria com o diretor Ivan Cardoso, e a comédia picante, em associação com o recém-criado SBT Filmes e a Warner Bross Pictures. “Observei que o terrir, o besteirol de horror, está abandonado no Brasil, que adora os americanos Pânico, Sexta-feira 13, etc. Amazônia misteriosa será o primeiro dessa nova franquia”, anuncia. Já Coisa de mulher, com Adriane Galisteu e Evandro Mesquita, pretende reviver a comédia picante focada no universo feminino, com sexo, paixão, ciúme, etc. “O cinema brasileiro ficou pudico de uns tempos para cá. A comédia picante tem muito a ver com nossa cultura”, é a sua explicação. E, para quem ainda se lembra, vem aí A dama do lotação 2, continuação do fenômeno estrelado por Sonia Braga no auge da sedução, que atraiu nada menos que seis milhões de espectadores aos cinemas. A nova versão contará com o mesmo diretor do original, Neville D’Almeida, mas, como nem tudo é perfeito, a opulência natural de Sonia Braga será substituída pelas curvas cientificamente elaboradas de Luma de Oliveira.