22/01/2016 - 19:00
Aos olhos de Helen Rappaport, Nicolau II, o tzar russo que entrou para a história como “O Sanguinário”, era um bom pai. Ela descreve em seu novo e aplaudido livro sobre a família Romanov, que, ao visitar o palácio de onde eles tinham sido despejados pela revolução socialista, em 1917, as pessoas “não podiam evitar a sensação cada vez mais forte de que Nicolau II não era o soberano despótico que lhes pintavam, mas antes um homem de família insípido que enchia a biblioteca com fotografias dos filhos em todas as fases da vida.”
RETRATO DE FAMÍLIA
Nicolau II com as filhas e o único menino, Alexei, o príncipe
hemofílico. A mãe vivia ausente por ter a saúde debilitada
como a avó, a Rainha Vitória, da Inglaterra
Nicolau II, a última coroa tzarista russa, foi sim um assassino em grande escala. Em seu governo o volume de atrocidades serviu, inclusive, para engrossar o discurso revolucionário que tomou as rédeas do país naquele ano. Rappaport sabe disso. A historiadora inglesa é autora de um dos grandes livros sobre o tema, “Os últimos Dias dos Romanov”, best-seller de 2008 onde descreve com detalhes as circunstâncias do assassinato e o destinos dos corpos dos Romanov.
Mas aqui ela resolveu quebrar o prisma historiográfico e colocou uma lente de aumento na confeitaria destruída pelos soviéticos: a curta e colorida vida das jovens princesas Olga, Tatiana, Maria e Anastácia. “As Irmãs Romanov” lembra, em muitos pontos, um conto de fadas. Tem feito um sucesso estrondoso no Reino Unido, mesmo se abstendo de se aprofundar nos momentos mais graves dessa saga familiar, que há menos de dez anos apenas se comprovou ter de fato terminado, com os exames de DNA feitos na floresta de Koptiáki, onde todos foram executados.
“Este é um livro sobre as verdadeiras irmãs Romanov”, avisa a escritora, encerrando qualquer uma das teorias conspiratórias que defenderam a sobrevida secreta de alguma delas. Entre os documentos pesquisados (muitos deles, a autora garante que inéditos), Rappaport teve acesso aos diários das quatro jovens, assassinadas pelo governo comunista como seus pais, Nicolau e Aleksandra, quando a mais velha contava 22 e, a mais nova, 17 anos. Biografias breves, portanto. Mas que se misturam com os passos que conduziram a Europa para a Primeira Guerra Mundial e, depois, ao movimento que condenou todos os de sangue azul à prisão e à morte. O livro parte desse ponto, os passos finais das quatro irmãs, que, como meninas de outras épocas e países, brincavam, mentiam, se apaixonavam e se frustravam sem se importar demais com o mundo à sua volta.