Todos já viram, mesmo sem saber, a imagem com que Piet Mondrian (1872-1944), em 1921, inaugurou o neoplasticismo. “Composição com Grande Plano Vermelho, Amarelo, Preto, Cinza e Azul”, pintura que reproduz literalmente o que seu título longo descreve, foi tão reproduzida, que quando se chega perto da grande tela geométrica no espaço expositivo do Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, a primeira sensação é de um estranho déjà vue.

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ALCANCE
Piet Moindrian (1872-1944) quis criar uma pintura que falasse com um
grande número de pessoas. Hoje, suas criações são familiares a quase todos 

A tela seminal do pintor holandês sai pouco de seu acervo de origem, o Museu Municipal de Haia, e nunca esteve no Brasil. Também viajam pouco as outras 29 obras do mentor do movimento do começo do século passado que serviu de base para a arte, a arquitetura o design modernos que se produziu a partir de então.

Mondrian não viveu para ver Yves Saint Lourent vestir suas modelos com os grandes quadrados coloridos inventados por ele. Pouco conheceu da arquitetura que se desenvolveu a partir de sua proposta de simplificação máxima das cores e formas. Ele morreu em 1944, em Nova York. Sua última tela foi pintada lá e batizada “Victory Boogie Woogie”, em homenagem ao jazz americano que o entreteve na terra estrangeira.

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Ainda na Europa, Mondrian ajudou a desenvolver essa arte despojada de ornamentos e voltada para a busca da essência, reunindo artistas e intelectuais em torno da revista “Der Stijl” (O Estilo), publicação de tiragem baixa, equipe pequena e quase nenhum anunciante que registrou a produção da geração encabeçada pelo pintor protestante. E aí se encontramais um acerto da montagem que depois segue para Brasília: a aproximação dos quadros de Mondrian com os peças de mobiliário (originais) e maquetes de casas de designers e arquitetos contemporâneos (e conterrâneos) que produziram diretamente sob a influência do movimento.

A cadeira “Vermelha Azul”, de Gerrit Rietveld, ícone do design mundial, parece uma recomposição em três dimensões dos planos criados pelo pintor. De madeira e com um sistema de montagem simples e econômico, a peça de mobiliário traduz com soluções de uso cotidiano um pensamento social que ocupava os artistas ligados ao Stijl, muitos dos quais ligados aos movimentos socialistas que nos anos 1920 já eram uma realidade na União Soviética. “O protestantismo e sua aversão pela ornamentação, assim como sua devoção ao trabalho como algo que deve sempre servir a um bem maior também influenciaram essa produção. Mondrian era antes de tudo um idealista. Ele não quis simplesmente fazer quadros, mas, sim, deixar um pensamento visual que pudesse falar com todos, igualmente”, diz Pieter Tjabbes, curador da mostra e sócio-diretor da Artunlimited.

Foram cinco anos de negociação para convencer o Museu de Haia a autorizar a saída das peças e seu trânsito por quatro capitais do Brasil. Agora, o melhor de Mondrian e de seus principais pares do movimento Der Stijl estarão ao alcance dos olhos de um número de pessoas que não se vê em museu holandês. Como queriam seus autores.

Fotos: Divulgação; J&M Zweerts Fotografie/Gemeentemuseum Den Haag