28/10/2009 - 10:00
Na quinta-feira 22, ele foi ao Twitter, onde é seguido por mais de 120 mil pessoas, e desabafou. Disse que está cansado de não responder à eterna pergunta sobre sua eventual candidatura à Presidência. Ser ou não ser, afinal? Serra está sendo pressionado por aliados a colocar rapidamente seu bloco na rua, diante da campanha antecipada e cada vez mais escancarada da ministra Dilma Rousseff . Para piorar, seu rival no PSDB, o mineiro Aécio Neves, também tem cobrado uma definição rápida, dizendo que não será refém das vontades de Serra. Cercado por todos os lados, o governador paulista parece indeciso. Como naquela propaganda de uma empresa de celulares, há um barulho ensurdecedor na sua mente: should I stay or should I go? Devo ficar ou devo ir?
Se o Twitter pudesse responder às suas inquietações, o melhor conselho seria: "Fica, Serra!" Motivo um: caso esteja disposto a partir para uma reeleição tranquila e comandar o Palácio dos Bandeirantes durante oito anos, ele poderá entrar para a história como um dos maiores governadores que São Paulo já teve – e até mesmo o caos do trânsito, um problema crônico da capital paulista, terá sido resolvido, com obras como o Rodoanel e a ampliação das Marginais. Motivo dois: os partidos que se aglutinam em torno do PT podem dar à chapa governista um tempo de televisão duas vezes maior do que o seu. Motivo três (e mais importante): Aécio tem maiores chances de vitória. Numa disputa entre Dilma e Serra, o roteiro já está traçado: seria um embate entre os oito anos de Lula contra os oito anos de FHC. Tendo Aécio como candidato, a polarização não funcionaria – até porque o político mineiro prega a composição entre PSDB e PT.
Ao empurrar a decisão para o ano que vem, Serra tenta recriar uma espécie de política do café com leite, como a que vigorou no Brasil entre 1890 e 1930. Seu sonho é a chapa puro-sangue, tendo Aécio como vice.
Assim, São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do País, montariam no mesmo cavalo. Só que a bebida já entornou, por uma razão óbvia: Aécio nada tem a ganhar com esse arranjo, que o transformaria numa figura secundária da política brasileira. Antes de decidir, Serra deveria pensar até nas coincidências históricas. O último paulista a se eleger presidente da República foi Júlio Prestes. Ganhou as eleições, mas não sentou na cadeira, porque foi impedido pela Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas. E se o lulismo é filho do getulismo, José Serra também é herdeiro de Júlio Prestes. Os mineiros, por sua vez, agiriam da mesma forma como fizeram no passado. Como? Traindo São Paulo, uai.