28/10/2009 - 10:00
Na era da tecnologia, a informação se propaga com tal velocidade que muitas vezes nem sabemos de onde ela veio. Blogs citam sites, que repercutem twitters, que remetem para vídeos disponíveis no YouTube. É uma corrente que, volta e meia, acaba na imprensa tradicional, na qual a competição exacerbada e a premência pela publicação da notícia podem induzir a erro. O tema, de relevância mundial, é o debate central de dois documentários, um brasileiro e outro inglês, que estreiam na quartafeira 28 em dois festivais de cinema.
Em "O Abraço Corporativo", concorrente da 33ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, o consultor de recursos humanos Ary Itnem ("mentira" ao contrário) concede uma série de entrevistas a jornais, revistas e emissoras de tevê e rádio falando da importância do abraço nas empresas. Ele diz ser o representante na América Latina da Confraria Britânica do Abraço Corporativo. Mas Itnem não existe. Nem a associação da qual afirma fazer parte. "Criamos um sujeito com respostas na ponta da língua, garantindo credibilidade", diz o ator Leonardo Camillo, que viveu o personagem. Uma das estratégias de divulgação foi Camillo andar na avenida Paulista com uma placa que dizia: "Dá um abraço?" Foi o chamariz para a imprensa."A ideia era mostrar o quanto alguém com um discurso clichê consegue espaço na mídia", diz Ricardo Kauffman, diretor do filme.
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INVERÍDICO Acima, a falsa tese do abraço corporativo. Abaixo, fogo no cabelo de Amy |
A urgência em saber detalhes íntimos da vida dos famosos levou o cineasta Chris Atkins a criar um documentário crítico aos tabloides ingleses. O filme "Starsuckers" (algo como "Aproveitadores de Estrelas"), que será apresentado no 53º Festival de Cinema de Londres, prova que esse tipo de jornal não está preocupado em saber a procedência de uma informação. Atkins e sua equipe fizeram ligações para os tabloides repassando notícias falsas sobre celebridades. Entre as histórias publicadas está a da cantora Amy Winehouse, que teria tocado fogo em sua cabeleira. Os jornais nem pediam o nome do informante e chegavam a oferecer 600 libras por novidade, mas a equipe não aceitava o dinheiro. "O fascinante de fazer esse trabalho foi provar como há mentira nos tabloides", afirma Atkins.
Uma das provas de que a imprensa acaba rendida em algumas situações foi a história do menino americano que estaria voando sozinho em um balão pelo céu do Colorado, nos Estados Unidos, há duas semanas.
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O que parecia uma tragédia revelou-se uma farsa. A polícia diz que os pais do pequeno Falcon Heene armaram a história para alavancar uma possível participação em um reality show. Ele estava escondido no sótão de casa. No domingo 18, foi divulgado que o casal pode enfrentar acusações criminais de conspiração e queixa policial falsa. Vários países noticiaram o caso. "A exigência pelo imediatismo no trabalho jornalístico torna os enganos mais frequentes", diz Vinícius Romanini, professor de teoria da comunicação da Universidade de São Paulo (USP). Mas isso não significa que não se deve confiar no que é publicado. A base do jornalismo é checar ao máximo as informações e entrevistar profissionais renomados e de instituições conhecidas para evitar enganos. E é assim que a grande maioria dos profissionais trabalha.