foto: cristiano zanardi/ag. bom dia. arte: rica ra
MOVIMENTO ISOLADO Sem-terra são criticados até por seu maior aliado, o governo

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que tem como objetivo investigar os repasses do governo federal ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ganhou novo fôlego na última semana como resultado das ações criminosas e atabalhoadas do movimento em uma fazenda no interior de São Paulo. Proposta pela bancada ruralista, a CPI já era considerada natimorta desde que o Planalto conseguiu que parlamentares da base aliada retirassem suas assinaturas momentos antes da sessão que a instalaria, no início do mês.

Mas os cinco mil pés de laranja da Cutrale destruídos pelos sem-terra e uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) dando conta de que os assentamentos não seriam produtivos criaram o ambiente político necessário para o renascimento da comissão. Na quinta-feira 15, o presidente do Senado, José Sarney, um aliado de última hora do MST, cedeu às pressões e decidiu convocar uma sessão conjunta das duas Casas na quarta-feira 21.

"Vamos pedir a quebra do sigilo bancário e fiscal dessas entidades", disse o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), líder dos Democratas na Câmara, dando como certa a criação da CPI mista. Se for, de fato, criada, a comissão deve afastar ainda mais o MST do governo. Aliados históricos do PT, os sem-terra têm ficado isolados por conta de ações que cruzam a fronteira da legalidade, como no caso da Cutrale.

Até o ministro da Justiça, Tarso Genro, classificou a ação como criminosa. "Se a pessoa entra numa propriedade e destrói, ela está cometendo um delito", disse. Dias antes o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já afirmara que a invasão se tratava de um ato de vandalismo. Com o MST sendo criticado por seu maior aliado, os ruralistas aproveitaram para pressionar o Parlamento.

Na terçafeira13, a CNA apresentou uma pesquisa realizada com mil famílias assentadas e mostrou que 37% delas não produzem sequer um grão na terra que receberam do governo e que 72,3% das famílias não conseguem gerar uma renda mínima nos lotes. O levantamento foi criticado de forma enfática pelo Instituto Nacional da Reforma Agrária (Incra). "Temos um milhão de famílias assentadas no Brasil.

A amostra do CNA é insuficiente, não pode ser considerada", afirmou Rolf Hackbart, presidente do Incra. Independentemente de quem tenha razão, o fato é que a ação criminosa de vandalismo do MST tem o poder de causar uma baita dor de cabeça ao Planalto e isolar ainda mais o movimento. Uma CPI a menos de um ano das eleições era tudo o que o governo não queria neste momento.