Não tinha samba, suor e cerveja. Mesmo assim, o sambódromo de São Paulo ficou lotado na semana passada. Milhares de famílias de todas as regiões da cidade foram conferir os descontos de 5% a 25% em 2.500 apartamentos ali colocados à venda pela Rossi Residencial. A líder brasileira na construção de imóveis para a classe média mandou 100 corretores para a avenida com a missão de vender mil apartamentos de 28 de outubro até o próximo domingo, dia 12.

O samba-enredo da Rossi não leva em conta as crises da Argentina, do euro, da Nasdaq – a Bolsa americana da nova economia – ou do petróleo. “O mercado imobiliário é muito sensível aos humores da economia”, diz Luiz Fernando do Valle, diretor da construtora. “Mas a demanda do nosso público alvo, principalmente de classe média baixa, continua firme.” De fato: somente no fim de semana de abertura do evento batizado de Pechinchão 2000 foram vendidos 150 apartamentos. Outros 200 ficaram compromissados – os compradores vão visitar o apê antes de assinar contrato.

O microempresário Jamir Pereira Jr. passou no sambódromo só para dar uma espiada. Por ele, continuava pagando aluguel, mas sua mulher, Rosa Maria, acabou o convencendo a comprar um apartamento de três quartos no conjunto Miami Garden, no bairro da Barra Funda. “Os juros dos financiamentos são tão altos que é como pagar um aluguel ao banco além do próprio valor do imóvel”, diz. Pereira Jr. conseguiu dar R$ 35 mil de entrada, 50% do preço total. O restante será financiado em parcelas mensais de R$ 540, pela Caixa Econômica Federal, CEF. O prazo é de 20 anos, mas ele quer quitar o imóvel em cinco anos, no máximo.

Novo modelo – A CEF vem retomando os empréstimos imobiliários, depois de um longo período em que fechou as torneiras. A inadimplência nos antigos contratos chega a 30%. Para a Rossi, os financiamentos da CEF vêm representando, neste ano, 60% do total de vendas a prazo, contra 20% em 1999. Os juros são mais baixos do que nos bancos privados e, por isso, a volta da CEF ao mercado ajudou a impulsionar os negócios. Somente no primeiro semestre deste ano a Rossi vendeu mais apartamentos do que no ano passado inteiro.

A CEF divulgou novo modelo de financiamento habitacional na semana passada. A partir deste mês, o mutuário pode perder o imóvel se atrasar o pagamento de três prestações. Antes, era uma querela de anos e anos na Justiça. Pereira Jr. sabe das novas, mas acha que está coberto contra eventuais imprevistos: “Se acontecer algo, posso contar com minha família para salvar a pátria”, consola-se.