03/11/2000 - 10:00
O tenente-coronel Ollanta Moisés Humala Tasso sempre foi um militar brilhante nas fileiras do Exército peruano. Em 1992, aos 30 anos, esse oficial de artilharia foi enviado para as selvas do Valle del Huallaga para combater os guerrilheiros do Sendero Luminoso e do Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA). Reconhecido pelo seu valor, em 1995 Humala foi designado para servir no Alto Cenepa, participando das operações militares no conflito do Peru com o Equador. No início deste ano, o militar – que participava de um grupo que denunciava oficiais envolvidos em corrupção – foi designado chefe do Grupo de Artilharia Antiaérea 501 no Forte Arica, no Departamento de Moquegua, Sul do Peru. No domingo 29, o tenente-coronel Humala, acompanhado de 50 militares, ocupou a mina de cobre da Southern Peru Cooper Corporation e tomou como refém o general Oscar Bardales Angulo. Depois de controlarem a mina por oito horas, os insurretos partiram para a região de Puno, exigindo a renúncia do presidente Alberto Fujimori e a prisão do ex-homem forte do regime e ex-chefe informal do serviço secreto, Vladimiro Montesinos, que se asilou no Panamá, mas voltou ao Peru há dez dias. No comunicado distribuído à imprensa, os rebeldes criticam duramente o presidente Fujimori e a “cúpula montesinista” das Forças Armadas peruanas, que seria formada por “generais enriquecidos com o tráfico de drogas”. Na terça-feira 31, depois que tropas leais ao governo resgataram o general sequestrado, Humala estava cercado e vários de seus liderados tinham desertado e se entregue às autoridades. Mas o estrago na corporação militar já estava feito. “Mesmo que Humala seja derrotado militarmente, suas reivindicações vão muito além disso. São reivindicações de ordem moral e por isso será muito difícil derrotá-lo”, afirmou o historiador peruano Nelson Manrique.
Desde que Montesinos retornou ao Peru, Fujimori – que marcou novas eleições para abril de 2001 e anunciou que não vai concorrer novamente – tem tentado mostrar que cortou todos os laços que o uniam ao seu ex-assessor. No sábado 28, depois de liderar uma suposta “caçada” ao antigo auxiliar, o presidente anunciou um expurgo na cúpula militar peruana, formada por colegas de turma e comparsas de Montesinos. Ao que tudo indica, a operação não passou de maquiagem. O comandante do Exército e do Comando Conjunto das Forças Armadas, general José Villanueva Ruesta – que além dos laços de amizade teria negócios com o ex-assessor presidencial –, foi substituído pelo general Walter Chacón. Como ministro do Interior, Chacón acompanhou Montesinos na coletiva em que o ex-chefe do serviço secreto “revelava” a descoberta de um contrabando de armas para a guerrilha colombiana, que depois se mostrou uma farsa. Adepto de gestos teatrais, o presidente destituiu o comandante da Segunda Região Militar, general Luis Cubas Portal, cunhado de Montesinos, a bordo de um helicóptero militar. Fujimori nomeou ainda para o Ministério do Interior o general Fernando Dianderas, da Polícia Nacional, tirando a polícia do controle do Exército.
“O Peru voltou às indefinições políticas de 40 anos atrás”, disse a ISTOÉ um oficial peruano. “Um golpe no Peru é possível porque há uma onda de autoritarismo na América Latina”, completa o almirante Hernani Fortuna. Para ele, o tenente-coronel Humala está testando a capacidade de Fujimori de reagir a uma ação militar, permitindo que os militares façam uma real avaliação da capacidade do presidente de reagir.