03/11/2000 - 10:00
A correção a laser da miopia (não se vê bem de longe), hipermetropia (dificuldade em enxergar de perto) e astigmatismo (visão ruim de longe e de perto) é hoje uma das cirurgias mais solicitadas no mundo. Cerca de um milhão de brasileiros já passou por ela. No começo do ano que vem, uma nova técnica promete aumentar a eficácia da operação. A técnica, batizada de wavefront, foi um dos temas mais polêmicos do último Congresso da Academia Americana de Oftalmologia, há duas semanas, no Texas. É que, além de representar um avanço, acena com a possibilidade de conquistar uma visão superpotente.
O wavefront combina um aparelho de diagnóstico da córnea, o aberrômetro, com um software que usa dados obtidos no exame para programar o excimer laser, usado na cirurgia de olhos. Oito desses equipamentos estão a caminho. Um deles começa a funcionar em abril, em caráter experimental, no Instituto da Visão da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Também haverá equipamentos em clínicas privadas, como a do oftalmologista Hamleto Molinari, e a rede Eye Care, de São Paulo. Nesses locais, a cirurgia custará cerca de R$ 1,8 mil por olho.
O novo método é considerado promissor. “O wavefront renova as esperanças de recuperação da qualidade visual de pacientes com imperfeições decorrentes de traumas ou transplantes de córnea”, observa o oftalmologista Rubens Belfort, da Unifesp. Outro benefício será melhorar a visão de algumas pessoas que se submeteram à cirurgia, livrando-se dos óculos, mas que ainda não enxergam com tanta nitidez. O motivo pode ser a superfície muito alterada da córnea ou variações sutis da sua curvatura. O refinamento do aparelho corrigirá esses problemas. Mais uma vantagem: a ampliação da correção cirúrgica. Se hoje opera-se até 10 graus de miopia, será possível corrigir 12 graus ou mais. Como o método é recente, a palavra-chave é cautela. “O wavefront não é para todos. Pode melhorar a visão ou ter desempenho igual ao da cirurgia atual se não for bem indicado”, pontua o oftalmologista Ricardo Uras, diretor do Instituto da Visão.
A maior restrição ao método é a badalação em torno de uma de suas aplicações, a que proporcionaria uma hipervisão. Os defensores sustentam que aplainar as imperfeições mais suaves de olhos normais permite ver melhor e mais longe. Nos Estados Unidos, a técnica tem sido sugerida para pilotos e soldados. Mas não há consenso sobre a sua segurança. “Suspeita-se que as microalterações naturais da córnea protejam o olho, já que o excesso de luz pode acelerar o surgimento de cataratas e da degeneração da mácula, uma das principais causas de cegueira nos Estados Unidos. Por isso, é precipitado apostar na cirurgia com essa finalidade”, afirma o oftalmologista Mauro Campos, da Unifesp. Visão de super-homem, por enquanto, só nos gibis.