10/11/2000 - 10:00
Qual a rotina de turnê de um pop-star consagrado internacionalmente? Aviões, hotéis, shows e até farras com tietes… O cantor francês Manu Chao está longe disso. Ele fez sua primeira turnê brasileira em carreira solo, no final de outubro, com apresentações consagradoras no Free Jazz Festival (Rio e São Paulo) e um show em praça pública para 25 mil pessoas no Recife. Mas em sua recente passada pelo Brasil ainda faltavam dois compromissos importantes: visitar o filho Quirá, de pouco mais de um ano, e fazer uma apresentação para acampados do MST no Estado. No fim da tarde de terça-feira 7, Manu Chao e sua equipe desembarcaram de duas vans no antigo acampamento Lenin, do MST, no município de Ocara, distante 95 quilômetros da capital. Sobre a criança, Manu não fala, tampouco como conheceu a cearense Germana, a mãe do menino. O cantor visitou Quirá pela primeira vez em julho. A incursão de Manu pelo Estado é conhecida dos cearenses. Ele já passou férias em Fortaleza e viajou por quase todo o sertão. Quanto ao show em Lenin, tratou-se de um ato de solidariedade ao MST e um protesto à morte do agricultor Francisco Aldenir Mesquita, o Denir, assassinado no último dia 25 de julho, Dia do Trabalhador Rural. Ele foi informado sobre o acampamento de
Ocara através de uma reportagem da revista Caros Amigos. O próprio cantor procurou a direção nacional do MST e a apresentação foi acertada com lideranças regionais. O custo para a realização do evento ficou por conta da produção do artista. Essa foi a primeira iniciativa engajada de Manu no Brasil. Ele costuma se apresentar para os zapatistas no Chiapas, México, e em campos de refugiados na Europa Oriental. O anúncio da presença do artista mudou a rotina do acampamento. Antes mesmo de sua chegada, o local começou a receber os fãs da capital. A maioria deles nunca tinha ido a um acampamento do MST. Mais de 250 admiradores prestigiaram a única apresentação de Manu Chao no Ceará. Ele quis conhecer o acampamento e fez questão de ser apresentado aos familiares de Denir. Visitou o local onde o agricultor foi assassinado e resolveu montar bem próximo dali o palco para sua apresentação. Simples e todo iluminado com pequenas luzes coloridas, o local do espetáculo mais parecia um altar sertanejo. Depois dos discursos emocionados em memória do agricultor, Manu e sua banda mudaram o clima da manifestação. Os assentados do MST, de início, olharam com desconfiança. Aos poucos, foram sendo contagiados pelo som pop e dançante do cantor.