10/11/2000 - 10:00
A indignação com os preços dos serviços da Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae) fez com que o gerente da galeria comercial Wafa, em Ipanema, Paulo Burlamaqui, fechasse o registro de água e substituísse os serviços da estatal por carros-pipa. A compra de água de três caminhões-pipa por semana, de 15 metros cúbicos cada e a um preço unitário de R$ 100, gerou uma economia de mais de R$ 2,9 mil ao mês. A conta cobrada pela Cedae era de R$ 3.918,79. Os caminhões vão custar aos condôminos R$ 1 mil por mês para abastecer as 50 lojas da galeria. A decisão de trocar os serviços da Cedae foi tomada na assembléia de segunda-feira 6, e tem tudo para acabar em confusão.
Quando vi que a conta não diminuiu, apesar de termos ficado três semanas com as torneiras fechadas, liguei para a Cedae. Fui informado que existe um valor mínimo a ser pago por estabelecimento comercial, mas os condôminos não querem pagar. Preferimos chamar o carro-pipa”, disse o síndico da galeria. Pelos seus cálculos, o consumo máximo das 50 lojas é de 150 mil litros de água por mês, mas a cobrança mínima é de 960 mil litros. O protesto do comerciante, que é dono de uma agência de viagem, repercutiu rápido. Ele logo foi informado pela Associação Comercial de Ipanema de que 100 outros condomínios já planejam uma ação judicial comum para questionar o pagamento da cota mínima estabelecida pela Cedae.
O gesto do síndico irritou a diretoria da estatal. “Os caminhões-pipa têm uma função regulamentada por lei, que é a de abastecer com água da Cedae locais onde não exista abastecimento regular”, reagiu o diretor de Operações e Manutenção da estatal, Flávio Guedes. A Cedae já entrou em contato com as secretarias estadual e municipal de Saúde e com a Fundação Estadual do Meio Ambiente para investigar a origem da água comprada pela galeria de Ipanema. “Se os caminhões-pipa forem credenciados na Cedae, perderão o credenciamento imediatamente. Eles não podem provocar um desequilíbrio em um sistema tão complexo como o nosso. Se não forem credenciados, a origem da água deve ser investigada, porque a saúde das pessoas está em risco”, disse o diretor.
Sobre a cobrança mínima de R$ 40,79 (incluindo o ICMS) por estabelecimento comercial só pela água (sem contar os R$ 33,44 do serviço de esgoto), o diretor de comercialização, Márcio Paes Leme, diz que a companhia está protegida por leis federais e estaduais. “O sistema foi pensado para que o pagamento mínimo garantisse o funcionamento de um sistema complexo, que exigiu muitos investimentos. Todos pagam um mínimo por um serviço posto à disposição da população do Rio, a construção de grandes adutoras e o tratamento da água, que tem uma qualidade de nível internacional”, disse o diretor.