Penumbra, respirações ofegantes e uma roda de pessoas vestidas de branco. A cena lembra um culto religioso. Mas está longe disso. As roupas brancas não são mantos e, sim, roupões. E a roda de “fiéis” não circunda um altar religioso, mas uma cama de quatro metros de comprimento por 2,5 m de largura. Em cima dela e sob a mira da platéia, seis casais fazem sexo simultaneamente. É o chamado swing, prática sexual que inclui de voyeurismo a troca de parceiros, e tem arrebatado cada vez mais adeptos no Brasil. Só este ano, foram abertas mais de 50 casas de swing na cidade de São Paulo. Dados da Associação de Bares e Restaurantes da cidade mostram que o total de estabelecimentos chega a 250. Além das experiências sexuais, essas casas oferecem pistas de dança, bares, quartos escuros, saunas e até piscinas. Há também as salas para voyeurs, com sofás macios e paredes de treliça que servem para espiar. Essas salinhas costumam ser o local mais disputado das noites de luxúria. São o palco de casais que gostam de transar enquanto são observados e se deliciam ao ver o prazer dos outros. Ali também é possível ver trios de homens e mulheres se enlaçando sem parar.

Alan Rodrigues
Cláudia, que gosta de dividir a cama com um homem e uma mulher, acha que a prática vicia

Parte das pessoas que experimentam o swing o fazem por pura curiosidade. É o caso da modelo paulistana Cláudia Moura, 26 anos. Ela entrou em uma casa de swing pela primeira vez há dois anos, e hoje é fã de carteirinha. “Swing é bom, mas vicia. Estou sem namorado e ainda assim vou toda semana a casas para casais liberais”, diz a modelo, bissexual assumida e fã de ménage a trois (sexo a três). Solteiras liberais como Cláudia, entretanto, são minoria nesses ambientes. A maior parte do público é formada por casais unidos há anos e que aposta na troca de parceiros para salvar o tédio do casamento. Parece contraditório, mas a maioria desses casais se diz monogâmica e encara o swing como uma forma de evitar a traição. “Com o passar dos anos, a relação cai na rotina e isso é inevitável”, explica a psicóloga paulista Aparecida Favoretto. “A troca de parceiros é um recurso de ‘traição consentida’ para que ninguém saia magoado”, aponta.

Antídoto – Todavia, o troca-troca de casais não deve ser encarado como antídoto ideal para o tédio da relação. Pessoas que se envolvem facilmente podem se machucar se saírem transando com o primeiro casal que virem pela frente. O psicólogo paulista Oswaldo Rodrigues diz que, para fazer swing e continuar mantendo um relacionamento estável, o casal deve ter a capacidade de encarar o sexo pelo sexo. “Apesar de parecer muito natural, ciúme e possessividade são queixas frequentes entre swingers”, explica.

André Dusek
Casal de Brasília só vai a festas particulares

O casal Reynaldo, 22 anos, e Sílvia, 27, aposta no sexo sem envolvimento e não se arrepende. Juntos há seis meses, eles frequentam casas de swing desde o início do namoro e nunca discutiram a relação por causa disso. Na opinião de Reynaldo, lugares para casais liberais não são exclusivamente sinônimo de sexo com terceiros. “Gosto desses ambientes pela amizade que estabeleço com outras pessoas e pelo clima ardente que permeia as relações”, conta. Sílvia, mãe de duas meninas do primeiro casamento, é cautelosa quando o assunto é ciúme. “Sou possessiva, mas aqui me controlo para não colocar tudo a perder”, diz a moça.

O local de swing preferido dos pombinhos é a casa paulista Casal & Cia, do empresário português Fernando Victor. Há dois anos, ele transformou uma mansão no notívago bairro da Vila Olímpia, em São Paulo, no templo dos swingers. Por ali, circulam mensalmente cerca de três mil casais entre 20 e 45 anos, quase todos de classe média alta. A noite começa com a troca de vestidos e ternos por roupões de banho. “Depois disso, eles vão à pista de dança, assistem aos shows de strip-tease e começam a se soltar”, explica Victor. Quando os stripers terminam a performance, a pista de dança vira uma espécie de praia de nudismo em versão boate. Dezenas de pessoas dançam e conversam naturalmente. “É como se todos estivessem vestidos. Aqui existe respeito: quem não quer ser tocado não será”, assegura.

Respeito – Para garantir esse respeito, a entrada de pessoas desacompanhadas é limitada. Na Casal & Cia, só as mulheres podem entrar sozinhas. Na boate Marrakesh, em São Paulo, elas só podem chegar até as duas horas da manhã – o gerente não quer que garotas de programa visitem a casa para fazer hora extra. Uma passadinha no banheiro feminino, entretanto, mostra que esse cuidado não funciona. Há mulheres discutindo preços e clientelas. Afinal, não há como definir quem é, de fato, casado ou não. Por isso a regra é usar preservativo. Para constatar, basta observar a sala escura da Marrakesh – onde de 20 a 30 casais fazem sexo simultaneamente – lá pelas cinco horas da manhã: o chão fica forrado de camisinhas usadas.

Alan Rodrigues
Reynaldo e Sílvia vão à Casal & Cia.
há seis meses. Ela tem ciúme, mas eles nunca brigaram por causa disso

Os swingers, no entanto, não se restringem a casas noturnas. No Rio, um sítio de quatro mil metros quadrados, na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, abriga o Paraíso dos Casais. Durante a semana, a casa é alugada para festas de aniversário e casamento, mas às sextas-feiras vira o principal ponto de encontro sexual. Piscina, sauna, churrasqueira e quadras de tênis compõem o ambiente que semanalmente atrai cerca de 50 casais liberais. Entre eles estão Tuti e Mel – nomes fictícios usados em sites e chats de troca de parceiros –, casados há cinco anos. Pais de uma menina de dois anos e meio, eles experimentaram o swing por idéia de Mel, 33 anos, pouco depois do casamento. “Queria me relacionar com outras mulheres, mas com ele junto”, diz. Tuti, 40 anos, gostou tanto que transformou o lar do casal em local de encontros. “Durante a semana, somos um casal normal. Às sextas e sábados nossa casa parece um bordel”, brinca Mel, descontraída.

Em Brasília, como não há clubes de swing, os casais liberais se organizam em confrarias. Realizam suas fantasias sexuais junto com casais de amigos em sítios, mansões alugadas, suítes de motéis ou casas noturnas fechadas para a ocasião. A entrada de pessoas estranhas aos grupos é restrita. Os novatos costumam aparecer a partir de chamadas em sites na internet e anúncios cifrados em jornais. Depois são convidados para entrevistas com casais mais experientes. O casal de arquitetos Gisele, 21 anos, e Walmir, 26, da capital federal, frequenta festas de swing quase toda semana. Empolgados, querem conhecer os clubes paulistanos. “Vamos à meca”, brinca Walmir. “Será nosso mestrado”, concorda Gisele.