28/05/2008 - 10:00
TESTE Eles são mais eficientes que camundongos
Pela primeira vez na história da ciência, pesquisadores conseguiram gerar macacos em laboratório a partir do gene de uma doença humana, degenerativa e incurável – mais especificamente o da síndrome de Huntington, mal caracterizado pela perda progressiva e irreversível da capacidade motora e cognitiva do doente. A experiência foi realizada no Centro Nacional de Pesquisas sobre Primatas Yerkes, na Universidade Emory, em Atlanta, nos EUA. Os cientistas valeram-se de macacos- rhesus uma vez que essa é a espécie portadora do genoma que mais se aproxima do seqüenciamento genético do ser humano – pelo menos 93% dos DNAs são coincidentes. Ou seja: eles são cobaias mais eficientes do que os camundongos. “Com os macacos-rhesus damos um passo importante para entender essa moléstia no homem”, diz o pesquisador Anthony Chan, um dos autores do estudo. Está explicado por que se privilegiou o rhesus em detrimento de outras espécies símias e também de ratos. Explica-se agora por que escolheu-se a síndrome de Huntington: como ela é causada por mutações em um único gene, é mais simples de ser recriada em laboratório.
O gene da doença foi inoculado em 130 ovócitos (células das quais os óvulos se originam) retirados de macacas e utilizouse um vírus como meio de transporte para carregar esse gene ao núcleo da célula. Esse mesmo vírus também transportou outro gene, responsável pela produção de proteína fluorescente verde. Como os animais começaram a brilhar no escuro, era sinal de que o vírus conseguira “entregar” a sua mercadoria no ponto exato dos ovócitos. Mais: se ele levou corretamente a proteína que faz brilhar, então é porque levou também com sucesso o gene que faz o macaco adoecer.
Essa manipulação genética rendeu 108 embriões. Desse total, 89 evoluíram para zigotos (média de cinco células), dos quais 30 foram colocados no útero de oito macacas. Foram gestados 23 embriões, cinco nasceram vivos. Dos dois filhos que ainda sobrevivem, um deles já dá sinais da doença, apresentando descontrole motor – um dos principais sintomas da síndrome de Huntington. “Agora nós temos um primata que de fato apresenta os sinais clínicos que vemos nos pacientes humanos”, diz Stuart Zola, diretor do centro que concluiu a pesquisa. “Essa experiência mostra que macacos podem ser modificados geneticamente com sucesso e apresentar reações idênticas às do ser humano”, diz Chan. “É o maior passo na direção de se descobrir tratamentos para a doença de Huntington e também para o mal de Parkinson e Alzheimer.”