28/05/2008 - 10:00
BLADE RUNNER Pistorius precisa melhorar seu tempo para conseguir o índice olímpico
Na luta para superar os limites do corpo humano, até que ponto é justa a contribuição da tecnologia? A polêmica que ronda o mundo do esporte foi reacendida com a conquista do velocista sul-africano Oscar Pistorius, 21 anos, no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS): ele ganhou o direito até hoje inédito de tentar a qualificação para a Olimpíada com próteses. A decisão é contrária à da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), dada a Pistorius em janeiro, com base em avaliação da Universidade Alemã do Esporte. O estudo apontou vantagem mecânica de 30% em relação aos outros atletas e economia de 25% de energia proporcionadas pelo uso das próteses. O tribunal considerou insuficientes as provas e baseou sua decisão no caso específico do sul-africano, sem criar jurisprudência. Apesar de o sonho ter ficado mais próximo, ele ainda precisa diminuir em mais de um segundo seu tempo nos 400 m – prova em que tem mais condições de se classificar, fora o revezamento de 4 X 400 m – para conquistar o índice olímpico.
Caso se classifique, Pistorius contará com a companhia de mais uma atleta amputada em sua delegação: Natalie du Toit, que disputará a maratona aquática sem o auxílio de aparelhos. Conhecido como Blade Runner (“corredor de lâminas”, em português), o sul-africano nasceu sem as duas fíbulas, osso entre o joelho e o calcanhar, e teve as pernas amputadas aos 11 meses. Hoje, é o atual recordista paraolímpico das provas de 100 m, 200 m e 400 m. O nadador Clodoaldo Silva, que ganhou seis medalhas de ouro na Paraolimpíada de 2004, torce para que Pistorius continue superando seus limites, mas entre os atletas com deficiência. “Gostaria de vê-lo em Pequim, mas não é justo com os outros atletas. Tecnicamente, ele se cansa menos.”
O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, José Kawazoe Lazzoli, explica: Pistorius é beneficiado pela elasticidade de suas próteses, que devolvem sob forma de impulso o impacto que causam ao tocar o solo. “Esse auxílio nenhum outro atleta tem. Um dos princípios da competição é a igualdade de condições, e esse é um precedente que pode quebrá-la”, afirma. Para Roberto Gesta, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo e membro do IAAF, o caso do sulafricano abre uma nova perspectiva sobre os limites entre competições olímpicas e paraolímpicas: “Temos de evitar que se crie um conflito generalizado entre essas duas expressões do esporte”, destaca.